segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vontade

“…amo desde o momento que quero amar até ao momento em que decido não amar… para amar é preciso querer amar como quem tem frio e quer calor ou como quem está cansado e quer descansar… tão simples quanto isso: é apenas um acto de exercício de um querer… não amamos por amar ou porque fomos aprender a amar como quem vai aprender uma nova disciplina; só se aprende uma nova ciência desde que se queira aprender; é preciso querer aprender; ninguém é obrigado a amar como ninguém é obrigado a não amar ou até mesmo a odiar… para amarmos é preciso que se queira amar: dizer mesmo – eu quero – e sentirmos que esse é um querer simples e sem artifícios… amar é uma entrega absoluta sem qualquer barreira, mesmo que magoe, que fira, que não seja o que pensávamos que seria… amar é uma dádiva e não um receber o que quer que seja, dando-nos para além de nós próprios mesmo que isso signifique perder alguma coisa… amar pode ser a perda de nós mesmos em prol de alguém que precise mais de mim do que eu próprio preciso e pode significar, portanto, dor, lágrima, choro, tristeza, amargura, infelicidade, desespero, quiçá até mesmo desamor… amar não é sorrir e dizer: Que bom, amo!… amar é dizer eu estou aí em ti e não em mim… amar é olhar para mim e sentir que só faço falta a ti e que me sobro a mim próprio… amar é tão simplesmente isso: querer estar naquele que precisa de mim mesmo que isso queira dizer que me perca, que deixo de ser o que sou ou o que gostaria de ser, mesmo que signifique a dor e a perda que tanto abomino e não desejo… para amar basta apenas querer amar… e a lágrima escorre pela minha face e a dor é forte mas, eu quero amar!…”

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Renascimento

"...é simples e ao mesmo tempo complicado estar deste lado; olhamos para o outro lado e não o entendemos... porque deste lado somos matéria e do outro lado somos espírito, consciência... não somos ainda capazes de nos convencermos que a nossa verdadeira identidade é eterna, a nossa verdadeira essência é etérea e não material... vivenciamos apenas aqui e agora, neste espaço-tempo que nos foi concedido, o estado bruto da materialidade e habituamo-nos desde pequeninos a sermos "donos"; queremos possuir; queremos ter; agarramo-nos ao corpo e a morte passa a ser tabú; a matéria pesa porque física e não damos, por isso, conta do espírito... é simples e ao mesmo tempo complicado estar deste lado; olhamos para o outro lado e não o entendemos... e, no entanto, é tão simples: basta aceitar que a morte é apenas um renascer!..."

domingo, 20 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Comigo

"...trago comigo a seda do teu cabelo, a maciez do teu beijo, a doçura do teu toque, o brilho do teu olhar, a atenção do teu escutar... trago comigo, na minha pele, na minha alma, no meu coração, a tua essência aqui brotada em mim durante os momentos da fruição dos seres que se tomam serenos mesmo num simples abraço... é apenas um hiato de tempo este espaço que nos separa... de resto, tudo está aí como tudo está aqui... um saber de um sabor a sentidos vividos em amor..."

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dia dos Namorados

- Como se ama?... perguntou-me ele com aquele olhar tímido
- É simples; primeiro é preciso querer amar; depois, ama-se, respondi-lhe
- Como assim?... notei-lhe incredulidade no olhar
- Só se ama quando queremos isso; nunca conseguiremos amar se não o quisermos; por muito que se teime em fazer uma dada tarefa, se não acreditarmos no que estamos a fazer e se não a quisermos fazer, a tarefa jamais termina, ou se termina, não sairá perfeita. Com o "amar" é a mesma coisa: temos que querer amar e então, sabendo que queremos "isso", é fácil amar
- Fácil?... interrogou
- Sim, fácil porque estarás a fazer algo que queres; se não quiseres amar não o vais conseguir
- Pois... olhou para o chão e perguntou novamente: - Disseste que primeiro era preciso querer; isso quer dizer que há mais alguma condição?
- Claro, respondi-lhe com um sorriso; segundo, é preciso crer!...
- Como assim?
- Tal como disse: querer amar e crer nessa forma de amar
- Bolas!... Assim é muito dificil...
- Claro que é!... Quem te disse que amar era fácil?
...olhou para mim, sorriu e correu escadas abaixo... espreitei pela janela; no pátio, a Teresinha (a amiguinha dele) esperava-o com um brilho no olhar! ...Limitei-me a sorrir!...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ensaio sobre a loucura

Primeira carta:



“…acordei por volta das 3 e 15 da manhã… sim, era isso… olhei para o relógio da mesinha de cabeceira e marcava 3 e 15… é um relógio daqueles de ponteiros luminosos… Olhei para o tecto sem saber porque razão acordara, mas lembro-me que talvez tenha ouvido a porta de um carro, lá fora, a bater ao fechar-se… olhei de seguida para os buraquinhos das frinchas da persiana da janela e divisei a luz da noite… a rua tem candeeiros e vê-se essa luz ainda que difusa… Senti o corpo morno e passei a minha mão pelos meus seios acariciando os bicos do peito… Deixei a minha mão descer pela barriga até sentir o meu sexo e desejei ter-te ali comigo… a minha mão acariciou os pelos púbicos e lentamente introduzi um dedo na minha vagina… Deixei-me estar assim durante uns momentos e lembrei-me de ti… lembrei-me de todos os momentos que te tive e que a meu lado te senti… Sabes, quando me abraçavas e me sentia pequenina, dessa forma mágica que tens de me abraçar… quando me beijavas e me sentia desfalecer ao sentir a humidade dos teus lábios… sabes, não sabes?… Sei que sim… Lembras-te daquele dia em que nos encontramos pela primeira vez?… O dia em que nos olhamos e os nossos corações bateram?… Aquele dia mágico que marcou o resto dos outros nossos dias?… Acordei sem saber por razão acordava mas penso que a saudade marca o sonho e, se calhar, estaria a sonhar contigo… Lembras-te daquele dia em que estavas sentado no sofá da nossa sala e me ajoelhei a teus pés?… Lembras-te de termos feito amor na mesa da cozinha?… Lembras-te daquelas férias que tivemos na montanha e lembras-te de certeza de termos feito amor deitados naquele chão branco de neve… Lembras-te de, no fim, teres lavado o teu sexo com a fria neve que estava ao nosso lado?… Lembras-te como ele ficou pequenino por causa do frio?… Lembras-te como nos rimos às gargalhadas?… E daquele dia que fizemos amor no carro?… A meio deste um grito porque te aleijaste numa perna no travão de mão?… Sim, porque não te haverias de lembrar, se eu me lembro tão bem… e daquela outra vez na praia, escondidos numa duna, quando eu fiquei cheia de areia… Acordei às 3 e 15 e já são 3 e 40!… 25 Minutos a pensar nisto… sinto-te em mim, meu amor e não estás aqui presente… mas sinto-te… sei que sou eu que me acaricio mas é como se fosses tu… sinto como se fossem as tuas mãos, o teu corpo quente, o teu hálito a maçã que costumavas comer a toda a hora… eras doido por maçãs… nunca soube porquê… nunca considerei isso importante mas era importante para ti, não era?… Os teus beijos quentes e húmidos, num saltitar constante entre os meus mamilos e a minha boca… Como beijavas tão bem… mas sei que mesmo que beijasses mal, para mim era sempre bom, doce, quente, por vezes abrasador… como eu costumava dizer que acendias em mim o fogo da lareira sempre acesa… eu sei que fui sempre “louca” por ti mas tu sempre gostaste de mim assim… eu sei que sim… eu sentia que tu gostavas de mim assim… tu também eras louco, sabias?… Sim, a tua loucura me incendiava e quando nos rebolávamos na cama parecia que tudo se partia e a cama chiava… como nós nos riamos disso… coisas giras e loucas, não eram?… Meu bem, como me lembro de ti assim?… Porque acordei eu a pensar em ti?… Porque é que ainda penso em ti ou porque é que estou sempre a pensar em ti?… Sabes que não há um único momento da minha vida que não pense em ti?… Eu sei, eu sei que dizem que estou louca… mas eles não sabem que já não estou louca, já estive, sim já estive louca por ti… agora já não estou… estou feliz, triste mas feliz e tu sabes porquê, não sabes?… Sabes, eu sei que sabes… Já são 4 da manhã… Acho que vou dormir um pouco… Penso que vou sonhar contigo e depois… depois voltar a acordar para pensar mais uma vez nos nossos dias felizes, nos dias que passamos juntos, naqueles dias em que a loucura era permitida e nada mais interessava… até ao dia em que te foste… Nunca soube porquê, porque me deixaste, porque não me quiseste mais… porquê, meu amor?… O sono está a regressar… sabes, deram-me mais uma injecção e vou ter de dormir, sim?… Eu vou dormir mais um pouco, meu amor… mais um pouco… mais um pouco… como ainda te amo… sim, serei sempre a tua Maria, meu amor… tua para sempre… para sempre…”

a tua Maria





Segunda carta:



“…continuo a acordar todas as noites… não há forma de o evitar… a tua ausência incendeia-me os sentidos… a tua falta provoca-me esta ânsia de te sentir presente… sofro neste sofrimento sofrido de dor e solidão… já não sei quem sou… também não interessa… lembras-te da última carta que te escrevi… sim, daquela em que acordei às 3 e 15 da manhã?… Essa…sim, quando senti a tua falta e me acariciei como se fosses tu que o estivesses a fazer… oh meu amor, como sinto a tua falta!… Não, não sei que horas são… até o relógio me tiraram deste sepulcro… olho pelas frinchas da janela e vejo luar… não sei a quantos estamos… mas isso tem importância?… Que valor terá o dia em que me encontro se não te encontro num só momento?… Desespero neste tormento de sentir a tua falta e não te sentir a presença… Como poderia sentir se tudo o que sinto é dor?… Todos os nossos momentos me passam pela memória e esta lembrança chora, chora como se fosse ela a minha própria alma e eu não existisse… Aqui onde estou não me lembro do que sou, só me lembro de ti e de todos os momentos em que estive contigo e contigo vivi… Sim, agora não vivo, apenas recordo… Dizem que recordar é viver… oh meu amor como pode ser viver se cada vez que me lembro, sinto que estou a morrer… as tuas mãos estão aqui no meu peito apertando-me os seios como tu tanto gostavas de fazer… a tua boca na minha boca e a humidade da tua língua na minha língua… o doce beijo nos meus mamilos e como as tuas mãos me penetravam com doçura e força ao mesmo tempo… oh meu bem, como te amo tanto… como te quero tanto… oh meu bem que lágrimas tão amargas estas que broto a todo o momento… olha, devem ser 4 da manhã… vem aí a enfermeira com a injecção do costume… continuam a dizer que esta minha loucura não tem cura… eu sei que não tem, como poderia ter?… Como me posso curar da tua ausência?… Como posso viver nesta minha morte?… Não sei meu amor, não sei… A enfermeira me aconchegou os cobertores… sabes, está frio e sinto frio dentro de mim… já não consigo falar… apenas olho no vazio… neste vazio que me preenche… Mas não preciso de mais nada, basta-me a lembrança dos momentos que vivemos… basta-me esta dor que vive comigo… bastam-me estas lágrimas… o meu pão de cada dia… o meu alimento neste vazio… sinto os olhos pesados… sei que vou dormir mais um pouco mas estou feliz pois vou dormir contigo nos meus braços, nestes braços que não te sentindo te lembram, te tocam, te apertam contra mim… lembras-te de quando adormecíamos assim?… Como era bom acordar a meio da noite com os braços dormentes e sentir o calor do teu corpo abrasar este meu ser que de tanto te querer te perdeu… oh meu amor, como te amo… como sinto a tua ausência… vou dormir… até mais logo… lembra-te de mim como me lembro de ti… um resto de noite feliz, meu amor…”

a tua Maria







Última carta:



“…já é habitual acordar a meio da noite… é sempre naqueles intervalos entre o efeito das drogas que me dão… aproveitei sempre esses momentos para te escrever, meu amor… porém, estou convencida que esta será a minha última carta e, sinceramente, não sei o que te quero dizer… meu amado, meu bem, meu doce, meu tudo, meu ser, minha alma, minha única razão de existir: não sei sequer se irás ler estas minhas palavras… como é hábito e tu sabes, devem ser 4 da manhã… está na hora de mais uma dose e a enfermeira deve estar a chegar… restam-me poucos minutos e estas serão as últimas que vou poder te escrever… as outras cartas que te enviei, onde recordava tudo o que de belo e bom tivemos durante os tempos em que estivemos juntos, também não sei se foram parar às tuas doces mãos, (tão doces de todas as carícias que me levaram ao êxtase e ao delírio, tão suaves que eram, meu amor, tão doces que as sentia em mim como se minhas fossem, como se me pertencessem desde sempre)… não sei se te disseram como estou, não sei se sabes no que me tornei… mas, há cerca de meia dúzia de dias (como se contam os dias aqui?… não me perguntes porque não te sei responder…) ouvi-os dizer que já não havia nada a fazer e que a única forma era o isolamento total e final… vão, pois, privar-me da única coisa que tinha vinda do exterior… a luz da lua nas noites frias porque sem ti e da luz do sol gelado porque não a teu lado… tiram-me também o bater das gotas da chuva que me faziam contar os segundos em que olhava o tecto e recordava tudo o que fomos… vão, portanto, enviar-me para longe de mim mesma, encharcar-me de drogas e mais drogas para que eu não possa reagir e gritar como tenho gritado estes últimos anos… gritado por ti, meu amor, gritado pela tua ausência, pelo amor que tivemos, por tudo de bom que passámos, por tudo o que está gravado na minha alma, na minha pele, no meu ser, na minha totalidade… como dizer-lhes que não estou louca, como dizer-lhes que o que sou é apenas o resultado do que fomos… como dizer-lhes que nada tenho porque apenas e só tu me faltas e que nada mais desejo que não seja o que um dia fomos… queria, antes de ir, antes (eu sei) de morrer de falta de ti, olhar-te apenas mais uma vez; fixar teus olhos e sorrir no teu sorriso… tocar teus lábios e tornar-me num beijo… sentir tuas mãos nos meus seios e ser eu mesma esse toque… sentir teu sexo me penetrar e ser eu mesma a penetração… meu amor, apenas uma última vez e eu ficaria curada… mas tenho consciência (sabes aquela consciência que nos resta no intervalo curto entre as injecções) de que tal não vai acontecer e sei que o meu túmulo estará naquelas 4 paredes sem grades porque sem janelas; já tinha ouvido falar delas quando cá entrei… ouço passos; deve ser a enfermeira do turno da noite… deve ser a próxima toma de mais um calmante… o habitual, a norma, o gesto, o ritual, a morte em ensaio… sei que já não vou ter mais tempo… o tempo terminou… vou levar comigo todas as recordações que me restam porque nada mais tenho nem nada mais quero: quero apenas que não me tirem a recordação do som do teu riso, o sabor do teu toque, o brilho do teu olhar… isso eles não me conseguem tirar… é isso o que vou levar comigo… quando partir para sempre deste corpo físico que já nada sente, irás dentro da minha alma e serei sempre feliz para onde quer que eu vá, tu estarás lá… eu sei, meu amor, eu sei… me despeço para todo o sempre… deixo-te a minha paz, a paz que obtive na loucura do nosso amor, a paz que me toca ao de leve enquanto sonho contigo… nada mais resta… perdoa-me por te ter amado tanto… perdoa-me por não conseguir deixar de te amar… perdoa-me por te levar comigo no meu coração… adeus, meu amor…”

a tua Maria




LOBICES

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Adormecendo

“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dentro de mim

“… trago-te dentro do meu peito escudada por ternos laços de afeição, de carinho e de paixão… trago-te no meu peito acolhida por todos os laços de serenidade e amor, num cabaz de tudo o que a paz nos pode tornar em seres felizes sem dor… trago-te no meu coração guardada em pétalas de azul celeste de douradas cores que ao longo dos tempos me deste… trago-te em ternuras embrulhada de coloridas sensações de tudo o que a tua presença me dá… trago-te dentro de mim ao sabor do que sinto que vive em ti e que pressinto saber-te dona do meu ser num estado de prazer, de tudo o que me é permito ter… trago-te dentro do meu coração, numa prece, ou oração, num saber que amar é o que te dou e o que recebo em troca numa deliciosa flor, seja ela qual for, mas que representa sempre e para sempre o presente de tudo o que me dás… tenho-te dentro de mim com serenidade e tudo o que representa o amor em paz…”
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dizer

...eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que já anda dentro de mim há milhares de anos e nunca tive essa oportunidade...

...há dias, quando surgiste na minha vida, um pouco alheada do próprio mundo, quando ali surgiste espelhada na minha alma, eu estive quase quase para te dizer...

...penso que me faltou a coragem e a voz se me embargou; calei dentro de mim o que deveria ter gritado; talvez tenha esquecido a forma de gritar, talvez só saiba calar... não sei... já não sei...

...mas eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que me possui e me rasga a mente, num acto demente do meu próprio ser de aqui estar sem saber falar, sem saber o que te dizer, sem saber gritar o que tanto tenho calado... milhares de anos de silêncio dentro de mim...

...milhares de anos de solidão da minha própria voz; milhares de anos de espera que surjas ali à esquina, em qualquer lugar, e num momento de paz eu te possa gritar todo o meu amor...

...áhh dor que dói e me corrói a alma de tanto calar esta tão louca forma de te amar... dor de aqui estar e não saber o que te dizer, de não saber traduzir esta minha forma de tão somente te sorrir...

...e sorrio-te a todo o instante, aqui, ali, em qualquer lugar ainda que distante... não me preocupa se me ouves, se escondes as palavras que tão docemente me são devolvidas porque não enviadas; doces palavras de paz, ternura, carinho, amor... em doses de candura mas eivadas de toda a minha dor...

...estão aqui mas sei que tinha qualquer coisa para te dizer; como posso gritar se a voz se me tolda em silêncios ocos e sem eco ou se com eco ecoam apenas dentro do meu vazio, um vazio que não preencho ou se preencho apenas o preencho com a minha própria alma já de si tão gasta por durante todos estes milhares anos não me teres dito: Basta!...


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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Busca

"... procuro em todos os poros do meu corpo a tua presença... vasculho a penugem que me cobre na busca de um traço teu, de uma marca deixada na selva do meu corpo... uso a mente na concentração do pensamento de todos os momentos vividos para os reencontrar em mim... uso a imaginação e penetro nas minhas artérias, nos meus músculos, nos meus tendões; tento ver as marcas que a tua estadia em mim deixou... minuciosamente, uso todos os meus sentidos: olho-me completo, milímetro a milímetro, cheiro-me, saboreio a minha pele e ouço o bater do meu coração, toco-me, acaricio-me... e vejo-te em mim, e sinto o teu cheiro a pétalas... o meu palato sente o sabor doce dos teus lábios, do teu beijo, do teu sal... ouço o sussuro das tuas palavras nos meus ouvidos e abandono-me aos teus devaneios... são pequenos nadas do meu dia a dia na procura de ti sempre presente em mim... são pequenos nadas da minha vivência enquanto tento olvidar os pequenos nadas da nossa ausência... olho-me sempre e vejo-te... e a tua presença é constante mesmo quando não estou a teu lado, mesmo quando não somos um só e nos fundimos de tal forma que tudo o que és fica indelevelmente gravado em mim..."