sábado, 31 de julho de 2010

O nome do meu amor

"...desce-me pela garganta o sabor do seu nome... entra-me pelos olhos a visão do seu nome e todos os meus sentidos percebem o seu nome... é como algo físico em si mesmo elaborado e expresso em sabores diversos... são sentidos como formas de ternas ocorrências nos momentos em que o seu nome é pronunciado... não é só o ouvir que me delicia, é também toda a sua forma e todo o seu significado... nada tem de extraordinário... é tão simples, tão normal e tão suave... de tudo o que ele é formado, é apenas uma única coisa mais: é o nome do meu amor!..."

sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estrelas

“…deleito-me no leito de seda feito num sonho perfeito em que sem jeito me sinto vogar em teu peito… supero a minha ânsia de te tocar, de te embalar nos meus braços, soltos, livres, sem laços e passo para além do sonho em que vagueio na penumbra do teu quarto no qual nunca me farto de pairar e para ti olhar… e sinto-te plena de vida e de tudo o que quero alcançar… e sinto-te plena de tudo o que em mim pulsa sem parar… deleito-me tão-somente por te ver, ao ouvir o teu respirar… sei que teu ser pleno de vida me envolve na seda do sabor da minha ida como no amargor da minha partida… e em cada momento que me envolve, momento que a mim devolve todo o sentir que me percorre, eu sei-o pleno de amor, de ternura, de sabor, de doçura… e esse sentir, e esse saber ou esse sabor, bastam-me para voar de novo em pleno e suave voo em asas que não ouso usar mas que preenchem o meu modo de te amar… e o sonho vagueia de novo, nas noites de luar ou numa de lua nova que faz com que as estrelas te venham espreitar…”

quarta-feira, 28 de julho de 2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sentir

“... és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal, o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto minha, sei que me sentes teu...”

segunda-feira, 26 de julho de 2010

domingo, 25 de julho de 2010

Correntes

“... a vida tem correntes que nos prendem e não nos deixam vaguear... são as correntes de ferro forjadas nas condições dos agravos que ela, a vida, nos abala... a vida tem correntes que nos levam em várias direcções como as vagas de um mar encapelado ou de um rio em tormenta... são as correntes invisiveis que nos empurram para a frente... a vida tem correntes sem correntes que nos fazem estagnar... são como os lagos mansos em que nem uma folha se move e assim, presa, depressa esmorece e morre... a vida tem tudo o que podemos desejar e tudo o que não queremos e temos de aceitar... a vida é bela e doutras vezes, do outro lado dela, a vida é como o fel em que o sabor doce do mel não existe e não se deixa provar por sedentas línguas de tanta e tanta gente neste longo mar a esbracejar... porém, a vida é uma realidade que nos faz aqui estar... ela nos empurra, ela nos prende, ela nos sujeita às mais diversas e caprichosas vontades de um poder mais forte que a nossa própria força... a chamada Lei da Atracção faz com que se consiga moldar a vida à nossa maneira, só que essa mesma Lei funciona para todos e se eu atraio para aqui haverá o meu oposto que atrairá para ali... vencerá algum ou perderemos os dois?... só a vida o saberá quando dermos pelo lado em que nos encontrarmos em determinado momento... porém, nada nos impede de continuar a perseguir sempre o mesmo caminho e, como tenho dito sempre e por, talvez, demasiadas vezes, vezes a mais, amar é o caminho e não interessa qual o caminho, interessa isso sim, caminhar... mesmo que as correntes nos prendam ou nos empurrem, forcemos os elementos que nos cercam e caminhemos em frente com a firme certeza que o amor está lá, lá bem ao fundo, em algum lugar à nossa espera... não desesperemos... avancemos com redobrada força... tenhamos confiança... acreditemos que amamos, que somos fiéis e que somos verdadeiros, no mínimo com nós mesmos... viva-se o momento, momento a momento apenas com um único intento: chegar lá, chegar aos braços do ser que amamos, do ser que desejamos alcançar, mantê-lo ao nosso lado, abraçar, beijar, sentir, viver, enfim, numa palavra, amar...”

sábado, 24 de julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Espelho

“…torno-me espelho de mim mesmo e a luz que em mim me toca, se reflecte no exterior do meu ser… espalho o que sou no espaço em meu redor… vejo-me diverso e dividido em milhares de partículas de luz, facto que tanto me seduz… porém, receio quebrar-me em mil pedaços e perder a magia destes meus ténues passos pelo mundo da fantasia… elejo-me mentor de mim mesmo e, sereno, torno-me pleno daquilo que sou: uma partícula apenas no meio do nada que me rodeia… mas a minha imagem, por todos os lados dividida, semeia no espaço em que me insiro tudo o que tenho por pouco que seja e eu sinto que a verdade deste louco imaginar, mais não é do que o desejo de o ser, de em mil imagens me tornar e… me dar…”

terça-feira, 20 de julho de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Queria apenas ser o teu sonho

"...Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso... a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim... brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras... a beleza em ti não residia nem morava ... era!... A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar... a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade... e tu, demoravas... da cómoda tiraste um frasquinho de perfuma e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam... e a tua cama, ansiava pela tua presença... e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo... levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença... olhaste de soslaio e sorriste... sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria... Tiraste os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito... a tua cama nem sequer se moveu... aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder... a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento... deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos... Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligar; os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia... e a tua cama sentia... na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão... olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente... avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento... a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente... em suas mãos te acabavas de entregar... e o sono chegou.... adormeceste... não sei mais o que se passou... a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu... a tua cama não se movia, com receio de te acordar; abraçava-te sempre para não te deixar fugir... sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali... tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas... a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha... sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia... nada mais desejava...
Queria apenas ser o teu sonho..."

domingo, 18 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

Desejo

“...te vejo ali, parada, me olhando só... não há palavras, nem medos, nem lágrimas... há apenas um olhar profundo e um toque suave como se fosse o toque mais importante deste mundo... te olho e te fixo a alma... te possuo mesmo antes de te tocar, de te amar, até mesmo antes de te olhar... é tudo muito mais forte do que o meu querer... olhar-te bem dentro mesmo sem te ver... sentir-te só de te desejar, ali, parada numa pose linda, somente a me olhar... fixo tua boca e te sorvo completa... te abraço sem te abraçar... te afago sem afagar... te penetro sem te penetrar... está tudo ali, em ti, a meu lado... basta te desejar... e meus olhos já te possuíram... e teus olhos já me abraçaram... e teus olhos já me sentiram... ali, sem questionar, me estendes a mão... vejo teu corpo a arfar.... e sentes minhas garras te tocar... e teu corpo em minha alma se entregar... tudo tão simples: apenas o desejo de te desejar...”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

E em ti me eternizo

“…os meus olhos pousam em ti e todos os meus sentidos te olham num delirar mútuo de atenção... vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura... cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz.... ouço o teu respirar lento, como um lamento que não lamento… as minhas mãos tocam os teus cabelos e envolvem-se neles... acerco-me de ti e te toco... te sinto global e ali inteira frente a mim... beijo a tua boca e tudo se torna como num festim de doces carícias e sabor a sal... estou inteiro no teu corpo inteiro e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim... é apenas um abraço, um enlace de braços que apertam sem apertar, sentindo apenas o teu respirar... minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda... fecho os olhos procurando apenas sentir… e sinto o desejo crescer em mim e o teu arfar sobe de tom... como é bom... a minha boca se cola na tua boca e a minha língua se funde dentro dela como se da tua se tratasse... é apenas mais um enlace... sinto o teu peito quente junto ao meu e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura... loucura que me invade lentamente, premente ali presente ou então como se tudo mais estivesse ausente... meus braços te envolvem e se descobrem momento a momento como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem… sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor, oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor... minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele, todos os recantos de teus encantos e se encontram, de repente, sobre o teu ventre quente, dolente... afago tuas coxas e as tuas ancas e as aperto contra mim… procuro o teu sexo e o acaricio... beijo-te completamente num único beijo e me torno desejo do teu próprio desejo…te envolvo num abraço mais e te penetro… és tu que me possuis... não te tenho, és tu que me tens... movimentos doces se entrelaçam como se não fossemos dois mas um só... os nossos corpos se fundem num arfar profundo de prazer e loucura... já não sei o que sou, apenas em ti estou... eu sou tu e tu és eu numa fusão de ser e estar... na verdade és tu que me possuis pois eu não te tenho, és tu que me tens pois em ti eu me dou... e em ti eu me eternizo…”

quarta-feira, 14 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nudez

"... porque te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?... para te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?... porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz que te cega?... para não olhares, para não veres o que sempre desejaste ver?... porque me dizes que sim quando do teu peito sai um gritante não?... para não teres de balbuciar um talvez?...porque pensas que pensas o que não pensas?... para pensares no que eu penso que tu pensas?... não, o melhor é mesmo não pensares… porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos estão presas e cheias de dúvidas?... porque desejas libertação se o que intimamente queres é estar quieto na bonomia do turbilhão?... porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a negrura da alma que te compõe o sentir?... porque não mentes se é tão doce mentir?... porque não calcas a doçura do mel?... porque não espezinhas a palavra calada?... porque não escreves o nada que tens para dizer?... que te disse eu que tu já não soubesses?... aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?... que sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou apenas de sabermos que nada sabemos?... porque te manténs sentada de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?..."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

Diálogo com a Serenidade

“... a calma tinha-se aproximado de mim como não me conhecesse... eu já a conhecia há muito pese embora os grandes momentos em que não a via ou não me encontrava com ela... porém, naquela vez, ela fez de conta que não sabia quem eu era... aproximou-se mansamente e como quem não quer a coisa, saudou-me ao de leve com um leve acenar pela passagem, pelo encontro... não lhe liguei demasiada importãncia mas educadamente correspondi ao seu aceno e sorri-lhe... foi nesse momento que ela olhou para mim e, de chofre, me perguntou: - Porque sorris?... Naquele instante não encontrei resposta mas uns segundos após, saiu-me uma frase lenta e suave: - Porque não haveria de sorrir?... Acho estranho, disse ela: Estás sempre preocupado, cheio de problemas, a tua cabeça é um vulcão, a tua alma desespera, o teu coração bate e os teus olhos não choram... Pois, respondi eu, eu sei mas por vezes caio em mim e entendo que de nada me vale o lamento; por certo que estou errado quando desfaleço e sentado ou deitado me concentro nas agruras da vida; depois penso que a vida é apenas aquilo que dela fazemos, aquilo que dela queremos, aquilo que dela podemos tirar... a vida nada nos dá excepto ela mesma, ou seja, ela se nos entrega numa única vez e após instalada em nós, somos nós mesmos que a gerimos... temos esse poder, o poder de moldar os dias, as horas, os minutos e até mesmo os segundos dos nossos momentos aqui e agora, ontem e, quem sabe senão ela, também amanhã... somos nós que decidimos enfrentar ou não o momento que se nos depara, seja ele bom ou mau... é apenas uma questão de escolha... mas tu não eras asssim, disse-me ela, a calma... sim, eu sei... na verdade, a vida foi tão diversa e tão cheia de coisas e coisas que houve vezes em que não te consegui enfrentar ou mesmo aceitar e desesperei... porém, houve também momentos em que soube que me podias ajudar... por isso te sorri agora... sei que me podes inundar e tornar-me pleno de mim mesmo e conceder-me ainda mais a capacidade de me dar ainda mais do que já tentei... sei que me ajudarás... porque me trazes a sabedoria, a sensatez, a alegria, a ternura de me saber feliz ao sentir que amo, que o caminho que percorro é o único que me pode serenar, o único que me pode pacificar, a caminhada plena para amar... e, com amor, se ama e com amor se perpectua a nossa vida, mesmo para além da morte... por isso, hoje, te sorrio por saber o quanto amo quem amo, quem me dá a plenitude da serenidade, num amar terno e seguro, forte e puro, real que de tão real, a ti o juro...”

sábado, 10 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ensaio sobre a solidão

“…depressa me canso de mim… olho à minha volta e só vejo recordações… uma terna claridade invade o meu quarto e me rodeia de mansinho… já reparei várias vezes: vem sempre acompanhada do silêncio!… nunca soube o porquê de tal evento… é uma luz difusa, lenta, como que surgindo a medo e com ela, um opaco silêncio… algo que nada traz a não ser paz… mas trazê-la já é bom… e é nesses momentos que me sinto só… e sabem porquê?… porque não tenho com quem partilhar esse momento!… algo que sempre desejei fazer um dia na minha vida: partilhar a minha solidão… dizer a alguém: “…Vês?… Estás a ouvir?… A minha solidão está aqui, é isto que vive aqui comigo… Entendes?…”… mas nunca consegui e nunca o consegui porque nos momentos em que a solidão me visita eu nunca estou acompanhado… engano, estar acompanhado estou mas apenas de mim mesmo e dessa luz e desse silêncio… já somos três… estendo-me então no leito dessa luz e deixo-me levar pelo barulho do silêncio que me invade… nunca é tarde para experimentar novas sensações, só que esta é já demasiadamente minha conhecida e então apenas nos olhamos e nos aceitamos mutuamente… nada mais fazemos senão partilhar aquele momento, uma partilha a três numa solidão solitária de um só… estendido nela e com o silêncio deitado a meu lado, olhamos o tecto que lentamente se separa de nós em tons de cinzentos cada vez mais escuros… passo os braços pelo silêncio e aperto-o de encontro ao meu peito… sinto o seu respirar lento e compassado… é um som simpático, eu sei, mas ao mesmo tempo ousado na medida em que invade o som do bater do meu coração… e o silêncio deixa de ser silêncio para ser um baque surdo ritmado aqui, ao meu lado, deitado… no entanto, continuo abraçado a ele e ele sente-se bem porque acarinhado… é um abraço puro mas forte… ingénuo mas apaixonado… é apenas um abraço de silêncio compartilhado num leito de claridade a escurecer em lentos tons que tem o anoitecer… porém, já quando o tecto se separa de nós e nos abandona entregues que ficámos à luz das trevas que entretanto nos envolvem, o silêncio se aperta contra mim e me possui… penetra-me fundo e a respiração torna-se ofegante, sufocante… o que até então era um prazer compartilhado passa a ser dor e algo que corrompe… penetra-me cada vez mais fundo e a dor aumenta… o bater e o som do meu coração ultrapassa o silêncio que entretanto se esvai num orgasmo de sons delirantes de espasmos gigantes que se avolumam dentro de mim… o tecto já não existe, a obscuridade ainda persiste com mais intensidade… é um estar sem vida, sem morte e sem idade… apenas habita em mim numa eterna cumplicidade… respiro o espaço que me rodeia… e a escuridão cai sobre tudo e me envolve como uma teia… já tenho mais uma companhia… o doce sono vem de mansinho amparar meu corpo e cobre-o com carinho… adormeço lento, extenuado de tanta amargura, numa vã procura do próximo amanhecer que de novo me vai trazer o fim de tarde, neste terno ciclo de amor e ódio em que espero pela eternidade…”

quinta-feira, 8 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Silêncio

"...Há um silêncio absoluto aqui até mesmo dentro de mim... Estou só, acompanhado apenas da minha solidão... por isso, não estou sozinho... estou acompanhado, logo não estou só... Estranho... O silêncio penetra dentro de mim sem pedir licença... também não sou capaz de lhe impedir a entrada... ele é tão livre quanto eu e eu, possuidor dessa liberdade, deixo-o entrar e sinto que a excitação que ele me provoca é sinal de prazer... Um prazer proveniente da paz que ele, o silêncio, alberga... Com ele, vem apenas o som da deslocação do ar quando ele chega sem avisar... É que, de repente, só (estando só) o sinto quando ouço o silêncio da sua chegada... Senta-se aqui ao meu lado e vejo perfeitamente que ele me olha de soslaio... mas não lhe ligo importância... quem se julga ele?... Alguém de muito especial?... Devo-lhe alguma deferência?... Não... Não lhe franqueio sempre a entrada?... Então, que mais ele quer?... Que lhe dirija a palavra?... Não!... Mil vezes não!... Se o deixo penetrar-me é porque assim o desejo e o quero, em silêncio, em paz, ouvindo-o sem o ouvir... sabendo apenas que ele está aqui... A solidão, por seu lado, essa não se importa muito pela presença dele... já está habituada... Olha-o com desdém como se ele, o calado silêncio, fosse ninguém... Sabe muito bem que ele não me faz mossa... sabe perfeitamente que ela, a solidão, é que é a minha amante preferida, hoje cinzenta (pode ser) mas amanhã, quem sabe, se colorida... É apenas a paz que me traz sereno e me faz sentir o seu frio ameno... é que o silêncio tem temperatura, ora é doce e quente, ora azedo e frio... mas já reparei imensas vezes que quando é azedo se sente um frio ameno... não enregela nem me estremece o corpo... amorna-me a alma e deixo-me ficar na mordomia da sua presença... É tudo apenas um estado de solidão a sós com o silêncio que me faz companhia... Por isso, não esfria... Deixa-me estar como quero... E ele se queda também e fica... Não incomoda... Sabe que a qualquer momento que eu queira, o mando embora... sabe que um grito forte pode, num ápice, cortar o ar que ele deslocou ao chegar... Ele sabe isso e por isso não se preocupa comigo... Mantém apenas um vago olhar... Como quem não sabe se parta ou se deve ficar... Depende apenas e só do meu grito... se este, o grito, do meu peito sair com força, com ânimo, com desejo de ser quem sou e não quem quero parecer ser... O problema com que me debato é saber o que sou ou mesmo até quem sou... Serei eu próprio o silêncio?..."

terça-feira, 6 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Entrega

“… tivesse eu as capacidades de um deus, mesmo dos da antiguidade, de um Zeus, de um Júpiter ou mesmo de um Marte ou até mesmo, porque não, duma Diana… tivesse eu os poderes de tudo demonstrar sem ter de provar, ou seja, bastar ser e não ter de provar que sou o que sou ou quem sou… tivesse eu toda essa força mágica e logo seria a mais pura prova do que há muito persigo: seria o Amor transformado em entrega, seria o Amor pleno, aquele que vive de si mesmo para se bastar e na totalidade se entregar… o Amor que deixaria de o ser para passar ao patamar superior do estatuto da fórmula única da vida plena que é Amar… passamos tempos e tempos sem sabermos o que é isso do Amor ou como é que se Ama e um dia, sem sabermos como, tudo surge ali, à nossa frente, sereno, demonstrativo da nossa anterior ignorância e dizendo-nos bem no nosso interior que o Amor está aqui dentro de cada um de nós e, como tal, livre de ser entregue ao próximo… e é nesse momento, quando o Amor sai de dentro de nós e o entregamos a alguém que ele se transforma numa dádiva e assim, de uma forma tão simples, passamos a Amar… esta entrega, esta forma de se estar na vida, pressupõe a inexistência de condições incluindo o não retorno, ou seja, amar mesmo que não nos amem… essa é a única forma de provar a nós mesmos que estamos a Amar e não tão pobremente apenas a gostar… é por isso que estou sempre a falar do mesmo, a batalhar todo o tempo na tentativa de demonstrar, sem ter de provar, que Amar é a minha forma de ser… tentar provar que se ama é uma forma de se negar a si mesmo porque quem ama não precisa de se afirmar: entrega-se, apenas… entrego-me a ti nas mais pequeninas coisas, mesmo até nos elementos que não são visíveis mas que existem, que estão lá, em ti, vindas de mim… entrego-me a ti sem perder a minha identidade, sem deixar de ser eu mesmo mas o que sou o transmito, o envio, o entrego em totalidade… entrego-me a ti em serenidade, em luz, em paz, em harmonia, com força, com garra, com espírito e alegria… entrego-me a ti num sorriso, num toque, numa palavra, numa frase… entrego-me a ti num beijo, num corpo, numa alma, com a totalidade do meu eu… entrego-me a ti tal como sou, impuro talvez, mas com doçura, em humildade e sem qualquer altivez… entrego-me a ti por amor…”

domingo, 4 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

Já se passaram 7 anos

“…faz hoje 7 anos!...
Acordei razoavelmente bem disposto. Levantei-me, fui para a casa de banho e, como de costume, ao fim de uma horita de lá saí pronto para o dia que se me apresentava pela frente. Por hábito, a seguir tomaria o pequeno-almoço mas não o fiz pois tinha de ir em jejum. (Chatice) Aguardei a hora e lá fui em direcção ao estabelecimento onde iria ser retalhado. (Cruzes)
Chegado, subi a escadaria, entrei na Secretaria (rimou), assinei os papéis e lá me levaram para o quarto. Choque. Quarto 155. Este número tem uma história e há quem a conheça; quando reparei que o quarto tinha aquele número, hesitei mas a funcionária lá me convenceu a aceitar aquele e não qualquer outro; afinal de contas, tanto poderia ser um mau como um bom sinal.
Ainda era cedo. 10 da manhã e a cirurgia só seria às 3 da tarde daquele dia 3 do mês 7 do ano 3 (há um ano atrás, claro…)
Mandaram-me vestir o pijama e deitar-me e aguardar. Assim fiz. Ao fim da manhã veio um enfermeiro fazer-me a barba à zona púbica e não me arrepiei nem um niquinho ao ver aquela lâmina enorme junto das minhas partes mais sensíveis. Entretanto senti frio e meti-me debaixo da roupa.
Por volta das 2 surgiu um cardiologista para me fazer o ecg para ver se eu estava em ordem para a anestesia.
Estava que nem um lorde. Uma calma absoluta que as tensões e as pulsações não deixavam mentir; estava em perfeitas condições para o sono artificial.
Enfim, a hora aproximava-se e lá veio o cirurgião com aquele sorriso simpático que lhe dava um ar de confiança absoluta (atitude que me concedeu uma paz de espírito total) e me permitiu encarar a cirurgia complicada (ainda que rápida) com calma.
Dez dias antes, no seu consultório, ele me havia dito todos os pormenores da cirurgia; a operação à hipertrofia da próstata seria feita através da introdução de um aparelho pela pila dentro (chiça); dentro desse tubo, um estilete com uma lâmina na ponta iria lá ao sítio cortar finíssimas camadas da dita cuja trazendo-as no retorno indo ao interior tantas quantas vezes fosse necessário; nos intervalos de cada viagem, um outro estilete a 200 graus de temperatura iria cauterizar as artérias que iriam ser cortadas com a lâmina. Isto, na verdade, não é agradável de ler quanto mais de ouvir dizer que nos vão fazer. Mas como ele me garantiu que nada iria sentir nem durante nem depois, nas mãos dele me entreguei com absoluta confiança.
Por outro lado, como tinha também uma hérnia inguinal, com um só tiro se matariam 2 coelhos, pelo que também me iriam operar a indesejada companhia.
E assim foi. Vestiram-me a bata (adorei a boina plástica que me puseram na cabeça), deitaram-me na maca e assim fui para o bloco vendo o tecto deslizar acima de mim.
Entrado no dito, de imediato me “esticaram” na marquesa operatória e me começaram a preparar a anestesia por 2 simpáticas médicas às quais me permiti dizer 2 coisas:
“Façam-me dormir o suficiente para que quando acordar eu tenha fome para comer um cabritinho assado”, e:
“Outra coisa: não se esqueçam de dizer ao operador que a hérnia é ali no lado esquerdo” (não fosse o diabo tecê-las)
Foi uma risota naquele bloco e a verdade é que não demorei um minuto a adormecer!...
E pronto!... Acordei por volta das 6 e meia da tarde a pedir o cabritinho mas não me deram… só no dia seguinte é que me deixaram comer. O que um “lobo” sofre…
E aqui estou mais “famoso” que nunca!
Este texto serviu para recordar o “evento” e, ao mesmo tempo fazer o exorcismo a este ciclo de 7 anos que acaba de passar...”

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Acerca dele

“...ele envelheceu um pouco nestes últimos tempos... nota-o quando olha o espelho ao desfazer a barba... interessante é notar também os pêlos brancos do peito... também não é para admirar... Mas a vida é assim, a vida prega partidas com as quais não se conta... A vida poupo-o durante muitos anos mas nestes últimos dez não foi fácil... Começou pela falência em 95 da sua empresa e os problemas inerentes e subsequentes deram chatices e as pressões provocaram danos... mais tarde, foram problemas do foro afectivo e a seguir problemas de saúde... Passou alguns maus bocados... Quando tudo parecia estar “resolvido” um novo factor destabilizante surgiu para lhe provocar novas dores de cabeça... Há já mais de um ano que ele vive só na companhia de duas velhinhas de 90 anos, sua mãe e uma sua tia... esta já se encontrava acamada mas tudo se ia resolvendo de forma consertada entre ele e sua mãe... porém, eis senão quando, sua mãe também cai doente mas sem doença, “cai” de cansaço, de velhice, de tempos demasiados de pesada vida ao longo de muitos e muitos anos... Ele é filho único e não tem mais ninguém a quem recorrer... tem os filhos mas estes estão um pouco longe e têm as suas vidas... sempre que podem e tal se torne necessário, eles o ajudam em casos específicos... No entanto, para o dia a dia, ali presente, ele está só... E sente-se só... Face aos acontecimentos, teve de criar uma rotina, pois os tratamentos, as medicações e outros factores a isso obrigam... assim, levanta-se por volta das sete e trinta... abre as janelas para que a luz ilumine o ambiente... liga o fogão... prepara a tia para a higiene matinal... depois prepara o pequeno-almoço para ela e termina com o refazer da cama e da limpeza do quarto... Segue-se idêntico tratamento para sua mãe ainda que não esteja incluída a higiene na medida em que ela ainda a consegue proceder de moto próprio...
Depois delas “arrumadas” ele vai “tratar” de si mesmo... Por volta das dez da manhã sai e vai fazer as compras que entende necessárias e toma o café da manhã (vício de longos e longos anos)... Regressa a casa e vai ao computador ver o que se passou durante a noite... lê os mails e escreve alguma coisa, pouca é certo pois é necessário ir fazer o almoço... Tem de fazer as “coisas” como faz no pequeno-almoço: primeiro trata da alimentação da tia e depois almoça ele mais a mãe... findo o almoço segue-se o arrumar da mesa e dos demais acessórios e o lavar da loiça... Por volta das catorze e trinta está “livre” e vai sentar o corpo para descansar a sesta... A rotina regressa por volta das dezoito horas e segue os mesmos termos até às nove... É nesta altura que ele se senta em frente do seu portátil e tenta distrair os seus nervos... nervos que se vão deteriorando não por um cansaço físico mas por um sentimento de impotência perante aquilo que a vida lhe deu... sente-se cansado por “dentro”... Então, fala dos “seus” pardais, do gato e do cão, do seu quintal e do sol que se põe sempre a oeste... fala das suas rosas, das nuvens e do vento leste... fala de tudo, menos dele e do “lobo” que há dentro dele… Fala de amor, do amor, de como amar sem posse nem destino... fala de amor incondicional e não o entendem... fala dos voos palermas dos pardais e escreve alguma poesia… Gosta de escrever contos, pequenos textos e alguns pensamentos... gosta muito de fotografia e gosta de as legendar... Fala sobre palavras… ama-as e ama as pessoas…
A resolução do problema passa pelo provável internamento da tia, mas tudo leva o seu tempo neste burocrático país de papéis e petições... Entretanto tem de ser assim...
Às vezes nota-se nele um desânimo e uma tristeza latente... Mas sente-se que a tenta ultrapassar; vê-se muitas vezes um sorriso aberto nos lábios e os passeios pedestres que ele faz ao meio da tarde servem para desanuviar a tensão acumulada durante o dia... Diariamente lhe perguntam como é que vão as doentes... invariavelmente e a sorrir, responde sempre da mesma forma: “Obrigado, as minhas velhinhas estão bem!...”
...
(P.S. - este texto foi escrito em 2003... em 2004 a tia faleceu e ficou só com mãe...e há cinco anos que ele se encontra nesta "prisão", neste túmulo de silêncio... mas ainda não parou de escrever... continua a falar sobre o Amor, sobre as flores, sobre a Amizade... mas vê-se que está cansado... vê-se que a liberdade que ele tanto necessita não o habita... prende-o...)

quinta-feira, 1 de julho de 2010