terça-feira, 5 de julho de 2011
Nudez
"... porque te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?... para te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?... porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz que te cega?... para não olhares, para não veres o que sempre desejaste ver?... porque me dizes que sim quando do teu peito sai um gritante não?... para não teres de balbuciar um talvez?...porque pensas que pensas o que não pensas?... para pensares no que eu penso que tu pensas?... não, o melhor é mesmo não pensares… porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos estão presas e cheias de dúvidas?... porque desejas libertação se o que intimamente queres é estar quieto na bonomia do turbilhão?... porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a negrura da alma que te compõe o sentir?... porque não mentes se é tão doce mentir?... porque não calcas a doçura do mel?... porque não espezinhas a palavra calada?... porque não escreves o nada que tens para dizer?... que te disse eu que tu já não soubesses?... aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?... que sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou apenas de sabermos que nada sabemos?... porque te manténs sentada de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?..."
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