terça-feira, 19 de julho de 2011
O som do silêncio
"...Há um silêncio absoluto aqui até mesmo dentro de mim... Estou só, acompanhado apenas da minha solidão... por isso, não estou sozinho... estou acompanhado, logo não estou só... Estranho... O silêncio penetra dentro de mim sem pedir licença... também não sou capaz de lhe impedir a entrada... ele é tão livre quanto eu e eu, possuidor dessa liberdade, deixo-o entrar e sinto que a excitação que ele me provoca é sinal de prazer... Um prazer proveniente da paz que ele, o silêncio, alberga... Com ele, vem apenas o som da deslocação do ar quando ele chega sem avisar... É que, de repente, só (estando só) o sinto quando ouço o silêncio da sua chegada... Senta-se aqui ao meu lado e vejo perfeitamente que ele me olha de soslaio... mas não lhe ligo importância... quem se julga ele?... Alguém de muito especial?... Devo-lhe alguma deferência?... Não... Não lhe franqueio sempre a entrada?... Então, que mais ele quer?... Que lhe dirija a palavra?... Não!... Mil vezes não!... Se o deixo penetrar-me é porque assim o desejo e o quero, em silêncio, em paz, ouvindo-o sem o ouvir... sabendo apenas que ele está aqui... A solidão, por seu lado, essa não se importa muito pela presença dele... já está habituada... Olha-o com desdém como se ele, o calado silêncio, fosse ninguém... Sabe muito bem que ele não me faz mossa... sabe perfeitamente que ela, a solidão, é que é a minha amante preferida, hoje cinzenta (pode ser) mas amanhã, quem sabe, se colorida... É apenas a paz que me traz sereno e me faz sentir o seu frio ameno... é que o silêncio tem temperatura, ora é doce e quente, ora azedo e frio... mas já reparei imensas vezes que quando é azedo se sente um frio ameno... não enregela nem me estremece o corpo... amorna-me a alma e deixo-me ficar na mordomia da sua presença... É tudo apenas um estado de solidão a sós com o silêncio que me faz companhia... Por isso, não esfria... Deixa-me estar como quero... E ele se queda também e fica... Não incomoda... Sabe que a qualquer momento que eu queira, o mando embora... sabe que um grito forte pode, num ápice, cortar o ar que ele deslocou ao chegar... Ele sabe isso e por isso não se preocupa comigo... Mantém apenas um vago olhar... Como quem não sabe se parta ou se deve ficar... Depende apenas e só do meu grito... se este, o grito, do meu peito sair com força, com ânimo, com desejo de ser quem sou e não quem quero parecer ser... O problema com que me debato é saber o que sou ou mesmo até quem sou... Serei eu próprio o silêncio?..."
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário