
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Amor de lobos
"...seriam cerca das 3 da madrugada quando na esquina da velha igreja daquela velha aldeia lá muito ao norte, quase a perder de vista a sua própria existência, se juntaram em silêncio 4 esbeltas mulheres de longos cabelos à solta, todas elas vestidas de branco... um branco alvo, como vestidas de noivas, sem véus nem grinaldas mas de branco... sentia-se um vento meio gélido naquele campo verde que se estendia para além das traseiras daquela velha igreja daquela velha aldeia... mas não se notou qualquer tremor de frio em nenhuma daquelas 4 esbeltas mulheres... a cor dos seus corpos roçava a cor do leite que, momentos antes haviam bebido dum mesmo canado... seus olhos negros, profundos, brilhavam quando os raios do luar daquela lua cheia lhes batiam nas faces em todo o seu fulgor... era uma lua grande, de prata, brilhando num brilho baço mas ao mesmo tempo ofuscante... deram-se as mãos umas às outras e continuaram o seu caminho... para trás ficava tão-somente um cheiro a flores... seus pés estavam nus e pareciam caminhar por sobre a erva daninha daquele campo verde... lá ao longe, um pouco mais para cima, divisava-se um morro e no cimo desse morro uma frondosa árvore, erguia os seus ramos numa espécie de posicionamento de espera e de aceitação... como que esperando por elas e pronta a abraçá-las... o silêncio era total e entre elas não se ouvia um único som... quem as visse de longe para cá daquela velha igreja daquela velha aldeia, pensaria que as 4 visões voavam ou pelo menos deslizavam... cada uma das que ficavam na ponta levava um cesto de verga coberto por pano branco de linho feito... e eis que chegaram aos pés da árvore... pousaram os 2 cestos de verga no chão e deram-se as mãos num círculo que abraçou o tronco da árvore frondosa e num misto de magia a árvore como que se baixou sobre elas como que as cobrindo num acto fálico enquanto as suas folhas roçavam os seus corpos... dos cestos, depois de terem desfeito o círculo, tiraram algo que não era visível aos olhos dos outros seres humanos e que não era possível descrever... entretanto, algures, num outro ponto daquela aldeia, deitado numa cama de doces sonhos, um homem alto, bem constituído fisicamente, com o corpo nu coberto de pelos negros, dormia e via-se que estava possuído por algum sonho de lascívio prazer, pois notava-se através da roupa da cama que o cobria que o seu sexo estava excitado e algumas gotas de suor lhe cobriam o peito forte... repentinamente, num passe de feitiço, esse "sonho" transportou-o para os pés daquela árvore frondosa onde se encontravam as 4 mulheres lindas vestidas de branco... ele olhou para ele mesmo e viu-se nu, tal como viera ao mundo e ao ver aquelas mulheres instintivamente levou as mãos numa tentativa de tapar o seu sexo erecto... a partir desse momento aquele homem entrou num espanto e seus olhos não queriam crer naquilo que estavam a ver... elas se começaram a despir e apenas tinham aquele vestido branco sobre as suas peles acetinadas cor de leite... e ele olhava... elas começaram a sorrir e os seus sorrisos eram como um convite ao sonho... daqueles cestos retiraram uns frascos que continham vários fluidos e começaram a untar os seus corpos... e ele olhava e começava a compreender o que via... elas o fizeram ver... uma se untava de mel, uma outra de untava de leite puro de ovelha uma outra de água salgada do mar e a outra de um creme que cheirava a jasmim... e ele não resistiu e o sexo se tornou novamente erecto e o seu corpo parou de tremer... aqueles corpos untados cintilavam quando os raios da lua cheia lhes batia na pele e elas continuaram com o ritual... todo o seu corpo foi untado incluindo os seios, o pescoço, as pernas,... apenas os cabelos soltos ficaram secos... então, elas se aproximaram daquele homem e se roçaram por ele de tal forma que o corpo dele ficou totalmente embebido daquela mistura de fluidos...apenas as mãos dele ficaram secas... e num acto quase que instintivo elas se deitaram no chão sobre os vestidos brancos que faziam de leito, o leito do Amor, o leito da procura do Amor, o leito da descoberta do Amor... e ele se misturou com elas e começou a possuí-las, uma a uma, e também numa mistura arbitrária de escolha... o seu corpo confundia-se agora com o corpo delas e já não existiam 4 mulheres ali... apenas existia uma única mulher onde ele se fundia numa escolha impossível... os ventres juntavam-se e os costados também... ele as tomou por detrás agarrando-se aos cabelos delas com as suas mãos possantes e puxava as cabeças delas num misto de prazer e dor, de agonia e êxtase, como se tudo se pudesse perder num só instante, numa avidez de gozo indescritível ... de repente ele sentiu os diversos odores que o cercavam e aos poucos foi deixando uma a uma até que ficou olhando aquela que cheirava a mar... e, nesse momento, algo de mágico se passou: um raio de luar atingiu-o e ele numa nova forma de sentir, viu lentamente o seu corpo transformar-se em lobo, um corpo coberto de pelo sedoso negro e brilhante ao mesmo tempo que a mulher que cheirava a mar se posicionava como fêmea do lobo... e ele a agarrou pelos cabelos puxando a sua cabeça para o seu peito e com firmeza a penetrou fundo num acto de posse total, num acto de prazer inimaginável onde a fusão foi possível tão-somente por magia... o seu corpo ofegou e o instinto animal veio ao de cima e, no mesmo momento em que lambia todo aquele mar, ele, num último uivo lancinante de prazer, espalhou sobre ela todo o fruto do seu Amor... então os corpos se misturaram e apenas se divisava um casal de lobos fazendo Amor... os seus corpos não conseguiam parar e num espasmo final ela se transformou em maresia, como que alva espuma misturada com o fluído dele... então, naquele silêncio de corpos se amando, um último uivo, não o dele mas o dela, se fez ouvir por aquela encosta abaixo, no preciso momento em que os primeiros raios de sol começavam ao longe, bem perto daquela velha igreja daquela velha aldeia, a despontar... nesse momento, o homem acordou de repente na sua cama e olhou e viu: uma mulher linda, vestida de branco, dormia profundamente ao seu lado..."
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A eterna procura
“… avanço na direcção certa ainda que não saiba o caminho, mas avanço… não me deixo ficar a olhar para a vereda que já percorri… avanço em frente, passo a passo, com cuidado mas com força e determinação… não são os meus pés que caminham mas a minha alma, o meu sabor de caminhar e o meu saber de que o estou a fazer… avanço porque quero… porque espero… porque sei que vou encontrar… o que quer que seja ou qualquer que seja o meu destino, a minha meta, a minha linha de chegada (a linha de partida já se esvaíu da minha memória), eu sei que a recompensa está lá… seja ela minúscula ou enorme… mas não é o seu tamanho que me move… mas sim o ter de ser… o querer, o amor, o desejo de amar… o caminho mais nobre, mais salutar do ser humano: amar!… vou sem olhar para trás… afasto os escombros dos prédios destruídos da guerra que se travou dentro e fora de mim ao longo dos anos e que foram ficando ali à minha frente porque nada pode ficar para trás… não devemos olhar para trás, não, mas tudo o que passou vai connosco na nossa caminhada… é preciso, pois, afastar o entulho, o pó, as pedras aguçadas que nos cortam o ser e continuar a correr… a percorrer… a olhar em frente, erectos, de cabeça erguida, de olhar brilhante e não turvado por uma ou outra lágrima que teime em cair… apenas tenho de ir… e vou… avanço sem medos, sem receio do que vou encontrar… o que lá estiver será o que calhar, o que tiver de ser… o que lá estiver, no final da caminhada será apenas o meu tudo ou o meu nada… mas o que quer que seja, seja tudo ou seja o nada, o que quer que seja, será meu… meu para abraçar, para abarcar, para enlaçar, para gritar ao mundo que por mais desconhecido que seja o fim do caminho, devemos avançar, com ternura, com amor, com garra, com dor se preciso for, com todo o afinco, com todas as nossas forças na procura do nosso “graal”, na busca do sentido da nossa vida, para que no acto final, qualquer que ele seja, eu saiba que fiz tudo o que me foi possível para saber que valeu a pena, que nada perdi, que fui quem fui, que sou quem sou, que serei quem tiver de ser, no aceitar único de que o percurso certo e correcto é apenas saber e querer amar…”
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Prisioneiros do amor
"...há homens que vivem para amar... e então, amam tudo e todos... despertam o amor em muitos seres mas nunca irá conseguir amar uma só pessoa... esse homem tem em si o desejo de viver num pleno estado de graça que o "Amar" lhe proporciona... esse homem que tanto ama, que tanto vive para amar... é um ser solitário... porque sofre... porque sempre insatisfeito... porque no meio de tanto e tanto amar ele não consegue "sossegar" num único amor... passa a vida a lutar pelo amor, passa a vida na constante procura do amor... percorre todos os caminhos e nunca encontra o seu "graal"... vive num eterno desejo de paz, de descanso do guerreiro... mas jamais o encontrará... é um ser insatisfeito, porque o Amor que espalha á sua volta é um círculo que o aprisiona e ele torna-se prisioneiro dessa procura..."
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Ao sabor das correntes
... a vida tem correntes que nos prendem e não nos deixam vaguear... são as correntes de ferro forjadas nas condições dos agravos que ela, a vida, nos abala... a vida tem correntes que nos levam em várias direcções como as vagas de um mar encapelado ou de um rio em tormenta... são as correntes invisiveis que nos empurram para a frente... a vida tem correntes sem correntes que nos fazem estagnar... são como os lagos mansos em que nem uma folha se move e assim, presa, depressa esmorece e morre... a vida tem tudo o que podemos desejar e tudo o que não queremos e temos de aceitar... a vida é bela e doutras vezes, do outro lado dela, a vida é como o fel em que o sabor doce do mel não existe e não se deixa provar por sedentas línguas de tanta e tanta gente neste longo mar a esbracejar... porém, a vida é uma realidade que nos faz aqui estar... ela nos empurra, ela nos prende, ela nos sujeita às mais diversas e caprichosas vontades de um poder mais forte que a nossa própria força... a chamada Lei da Atracção faz com que se consiga moldar a vida à nossa maneira, só que essa mesma Lei funciona para todos e se eu atraio para aqui haverá o meu oposto que atrairá para ali... vencerá algum ou perderemos os dois?... só a vida o saberá quando dermos pelo lado em que nos encontrarmos em determinado momento... porém, nada nos impede de continuar a perseguir sempre o mesmo caminho e, como tenho dito sempre e por, talvez, demasiadas vezes, vezes a mais, amar é o caminho e não interessa qual o caminho, interessa isso sim, caminhar... mesmo que as correntes nos prendam ou nos empurrem, forcemos os elementos que nos cercam e caminhemos em frente com a firme certeza que o amor está lá, lá bem ao fundo, em algum lugar à nossa espera... não desesperemos... avancemos com redobrada força... tenhamos confiança... acreditemos que amamos, que somos fiéis e que somos verdadeiros, no mínimo com nós mesmos... viva-se o momento, momento a momento apenas com um único intento: chegar lá, chegar aos braços do ser que amamos, do ser que desejamos alcançar, mantê-lo ao nosso lado, abraçar, beijar, sentir, viver, enfim, numa palavra, amar...”
terça-feira, 12 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Acabaram-se as palavras
"... terminaram as palavras... as letras deixaram de existir... as frases já não podem ser formuladas e a comunicação escrita ou falada findou... o Homem deixou de poder dizer um simples vocábulo e nem um só ditongo se consegue escrever ou articular... mas a sua necessidade de gritar leva-o a inventar novas formas de comunicar... passa a usar o seu corpo para insinuar as sílabas e começar a juntar os elementos que formam a ideia, a imagem ou apenas o sentido... o seu corpo passa a ser a caneta ou a corda vocal... e as mãos tocam ali, acolá ou aqui... movem-se no espaço e sentem que do outro lado existem outras mãos que fazem o mesmo... e todos começam a gesticular... e do gesto, passam ao encontro, ao toque mútuo, ao abraço, ao enlace, à carícia, ao beijo, à ternura, a todo o género de acto que defina um desejo de comunicar, de dizer: estou aqui, estás aí, podemos falar?... então trocam-se os toques e todos se movem no mesmo sentido... no Mundo existe o silêncio mas passou a existir o abraço... algo que o Homem já havia esquecido há muito... e apesar de o riso não ser articulado, existe o sorriso... e apesar do grito se ter silenciado a lágrima pode escorrer pela face e dessa forma se diz o que se passa, o que se sente, o que se deseja, o que se vê e o que se quer que seja entendido... o Homem calou a voz mas não consegue deixar de comunicar... e o seu corpo passa a ser o elemento base dessa acção... e, dessa forma, mesmo não podendo dizer que se ama, pode-se dizer o mesmo num sorriso, num beijo, num toque, num abraço, num desejo... e o Amor, por mais que o Homem possa perder as suas faculdades, jamais morrerá... e Amar, continuará a ser o único caminho!...”
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
O silêncio da solidão
"...Há um silêncio absoluto aqui até mesmo dentro de mim... Estou só, acompanhado apenas da minha solidão... por isso, não estou sozinho... estou acompanhado, logo não estou só... Estranho... O silêncio penetra dentro de mim sem pedir licença... também não sou capaz de lhe impedir a entrada... ele é tão livre quanto eu e eu, possuidor dessa liberdade, deixo-o entrar e sinto que a excitação que ele me provoca é sinal de prazer... Um prazer proveniente da paz que ele, o silêncio, alberga... Com ele, vem apenas o som da deslocação do ar quando ele chega sem avisar... É que, de repente, só (estando só) o sinto quando ouço o silêncio da sua chegada... Senta-se aqui ao meu lado e vejo perfeitamente que ele me olha de soslaio... mas não lhe ligo importância... quem se julga ele?... Alguém de muito especial?... Devo-lhe alguma deferência?... Não... Não lhe franqueio sempre a entrada?... Então, que mais ele quer?... Que lhe dirija a palavra?... Não!... Mil vezes não!... Se o deixo penetrar-me é porque assim o desejo e o quero, em silêncio, em paz, ouvindo-o sem o ouvir... sabendo apenas que ele está aqui... A solidão, por seu lado, essa não se importa muito pela presença dele... já está habituada... Olha-o com desdém como se ele, o calado silêncio, fosse ninguém... Sabe muito bem que ele não me faz mossa... sabe perfeitamente que ela, a solidão, é que é a minha amante preferida, hoje cinzenta (pode ser) mas amanhã, quem sabe, se colorida... É apenas a paz que me traz sereno e me faz sentir o seu frio ameno... é que o silêncio tem temperatura, ora é doce e quente, ora azedo e frio... mas já reparei imensas vezes que quando é azedo se sente um frio ameno... não enregela nem me estremece o corpo... amorna-me a alma e deixo-me ficar na mordomia da sua presença... É tudo apenas um estado de solidão a sós com o silêncio que me faz companhia... Por isso, não esfria... Deixa-me estar como quero... E ele se queda também e fica... Não incomoda... Sabe que a qualquer momento que eu queira, o mando embora... sabe que um grito forte pode, num ápice, cortar o ar que ele deslocou ao chegar... Ele sabe isso e por isso não se preocupa comigo... Mantém apenas um vago olhar... Como quem não sabe se parta ou se deve ficar... Depende apenas e só do meu grito... se este, o grito, do meu peito sair com força, com ânimo, com desejo de ser quem sou e não quem quero parecer ser... O problema com que me debato é saber o que sou ou mesmo até quem sou... Serei eu próprio o silêncio?..."
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Queria apenas ser o teu sonho
"...Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso... a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim... brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras... a beleza em ti não residia nem morava ... era!... A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar... a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade... e tu, demoravas... da cómoda tiraste um frasquinho de perfuma e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam... e a tua cama, ansiava pela tua presença... e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo... levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença... olhaste de soslaio e sorriste... sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria... Tiraste os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito... a tua cama nem sequer se moveu... aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder... a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento... deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos... Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligar; os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia... e a tua cama sentia... na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão... olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente... avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento... a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente... em suas mãos te acabavas de entregar... e o sono chegou.... adormeceste... não sei mais o que se passou... a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu... a tua cama não se movia, com receio de te acordar; abraçava-te sempre para não te deixar fugir... sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali... tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas... a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha... sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia... nada mais desejava...
Queria apenas ser o teu sonho..."
Queria apenas ser o teu sonho..."
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Agarrar o tempo
“…e os dias escorrem por entre os meus dedos e não os consigo agarrar… e as horas se esvaem em momentos de saudade e de desejos de presença… e os minutos contam quando se pensa no que queremos que seja e sentimos não poder ser… até que surge o momento em que o encontro se apraz nele mesmo e nos delicia com todos os segundos que o toque nos propicia… e os dias que escorrem pelos dedos deixam de existir e a paz volta a fazer-nos sorrir… e o ciclo continua numa luta de vontades e de saudades… as idas e as vindas e o abraço da chegada e o abraço da partida… ambos transmitem o mesmo mas com sentido diferente… ambos são enlaces mas um traz o sorriso e o outro leva a lágrima… até que nova vinda que nos anima surja após os dias que escorrem pelos meus dedos… e, nessa altura, desaparecem todos os medos e fica apenas a troca dos segredos que guardados foram nos momentos que escorreram pelos dedos… e esses breves dias que tão rápidos passam por nós, trazem-nos os sorrisos, os beijos, os abraços e sabemos que não estamos sós… temo-nos um ao outro, por tempo que sabemos ser pouco mas que vale pela ânsia daqueles que nos escorrem pelos dedos… e o beijo sela a doçura do tempo em que a dor perdura na esperança que depressa passe a amargura dos dias que nos escorrem pelos dedos e não os conseguimos segurar… sabemos apenas que, pelo menos, amar a cada segundo que passa é uma bênção que fica cá dentro e não foge como o tempo que gostaríamos de prender… mas a dor da ausência ajuda-nos a vencer…”
sábado, 18 de setembro de 2010
Amar como o vento
"...Em cada relação que começa, a vida e o amor renascem. A paixão coloca cada pessoa num ponto alto e excepcional, inevitável e imperdível. Gostosamente. Mas as pessoas no seu melhor vêm depois, às vezes muito depois, quando se chora e luta, quando se aceita e se resiste, quando se constrói e quando se acredita. As verdadeiras relações, os grandes amores são sempre virtuais. Não por serem irreais, antes por serem imateriais, apesar de nos darem a ilusão de um corpo, de um suporte material que tocamos e possuímos, que acreditamos nosso, real, físico, material. Sentimos amor, quase conseguimos tocar, agarrar essa sensação. Dizemos convictos que é real. Olhamos o outro nos olhos e parece real, parece que o outro ali está e nos ama mais que nós... Mas ver, sentir, tocar, são formas de aceder ao amor, ascensores, facilitadores. Difícil mesmo é planar. As relações são feitas de ar, planar. É no vento que se ama. Talvez ser o próprio vento, e não a folha. Vê-se melhor o que é amar quando é difícil amar, aceitar que é sempre mais do que improvavelmente, um esforço, um desejo, um empenho pessoal em algo que materialmente não existe, não é palpável nem mesmo se sente. Nunca se ama realmente, a realidade do amor é nunca ser real. Virtual. No dia a dia, corpo a corpo, sonha-se o amor, sonha-se um amor virtual, que se não for virtual não é amor. Virtual porque não depende da presença do outro, da aparência do outro, do comportamento do outro. Um amar que perdura e se sustenta (Vento) mesmo quando não vemos o outro. Amar é memória, antecipação e crença profunda em memórias que hão-de vir. Virar a cara a quem nos vira a cara, sabemos todos que é real, bem concrecto, mas não é amar. Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar. É na paciência, na persistência que se mede o amor. Amar é escolher amar. Depende de quem ama e não de quem é amado. Depende do esforço e disponibilidade de quem ama. Ninguém merece ser amado, porque ninguém pode deixar de merecer ser amado. Não depende do mérito, não depende do comportamento, não se vê nem se comprova. Posso ter que silenciar, posso ter de partir... vai comigo o amor..."
terça-feira, 14 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Novas palavras
“… quisera escrever palavras que ainda não tivessem sido ditas ou escritas porque ainda não inventadas e dedicar-tas só para ti… dizer-te palavras diferentes de todas as que já foram ditas, escritas, reditas e reescritas… poder sentir que aquelas palavras eram só para ti e que mais ninguém as houvera lido ainda nem sequer sido sonhadas porque não inventadas nem rotuladas com significados óbvios… poder sentir que o destino delas era único e que mais ninguém se pudesse apropriar delas porque seriam apenas tuas… poder sentir que nada do que pudesse até então ter sido dito havia sido repetido… seriam palavras para escrever um livro onde nele descrevesse tudo o que estivesse na minha Alma e nunca houvera dela saído para o exterior… seriam sim claro, palavras de amor… mas essas existem em todo o lado, estão espalhadas pelo espaço de todos os pontos cardeais, em todos os cantos, dirigidas em todos os sentidos, conduzindo o Amor para a sua simplicidade ainda que indolor… seriam sim claro, palavras de ternura, de carinho, de afago, de candura, de puro desejo de as sorver num só trago e mais não existissem excepto no teu coração pois para ele elas haviam sido dirigidas… queria sim escrevê-las num só fôlego, num só dizer, num só escrever, numa só direcção e saber que as havias recebido, sentido e digerido dentro do teu ser… palavras escritas para mais ninguém as ler… só tu as receberias e as sentirias porque saberias que te pertenciam… queria, pois, inventar novas palavras que exprimissem o que já sabes sem eu as escrever porque tas digo ao ouvido, porque tas entrego no corpo, porque elas se entranham em ti vindas de mim, num crescendo de Amor sem palavras ditas ou escritas de cor, apenas sentidas pelo teu existir… dessa forma, não necessito de as inventar porque elas já existem dentro de ti quando as entendes no momento em que não as pronunciando, a ti somente as entrego… fico assim sem necessidade de as escrever porque elas mais não são do que o sentir em mim a força do âmago do teu ser…”
sábado, 11 de setembro de 2010
Uma carta de amor
“…tens razão, meu amor: nunca te escrevi uma carta de amor… interessante notar que mesmo num tom frio dito assim, sinto a dureza do saber que algo tão simples ainda não foi feito… talvez não tenha jeito… ou será apenas preconceito?... mas, na verdade, nunca te escrevi uma carta de amor, daquelas que levam as mágoas e as saudades em torrentes turvas de rios alterosos em direcção a um mar onde o horizonte se confunde com as cores de majestosos tons… são cartas de amor em que as palavras se confundem com os sentimentos que queremos transmitir e não os sabemos… são cartas de amor em que as palavras se misturam numa amálgama de tonalidades que não duram… são cartas de amor que perduram no tempo sem um lamento mas onde o sentir de um breve sentimento mais não é do que o dizer da palavra em dado momento… são cartas de amor que não escapam ao estereotipo dos sons que se ouvem na escrita e se escrevem com a voz… o som que se debate dentro de nós sem sabermos que já não temos o poder de gritar a sós… cartas de amor dizendo o que não é preciso dizer… cartas de amor falando de coisas que sabemos sentir, possuir, ver… cartas de amor com palavras que transmitem o toque, o cheiro, a visão, o sabor e a audição dos nossos corpos em fusão… na verdade, meu amor, nunca te escrevi uma carta de amor… uma carta que repetisse o que desde o início sempre te disse: que te amo… para quê então, meu bem, escrever o que já se sabe, o que já se tem?... mas um dia vou tentar escrever-te uma carta de amor, uma carta que te leve as palavras que me preenchem e se derramem sobre ti num sabor a tudo o que qualquer homem e mulher podem querer: que se amem a valer sem preciso ter de escrever uma carta de amor, perfeita, bela, cheia de luz e de cor…”
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Porque te amo ?
“…amo-te porque te amo… porque me sinto bem quanto te olho… quanto te toco… quando te beijo… quando sinto a tua pele perfumada junto da minha… quando te vejo sorrir para mim… quando ouço a tua voz… quando te ris… quando me tocas, me acaricias e me fazes sentir homem… amo-te quando me dizes que também me amas, quando me dizes gostar de mim, quando me olhas e vejo no teu olhar a tua alma e o reflexo da minha… quando sabemos que nada mais no mundo nos importa… quando sentimos que tudo o que gira à nossa volta está parado e somos o centro de tudo… amo-te quando te digo que te amo, quando te sussurro palavras ternas, quando ouço as que me dizes… amo-te quando me dás um mimo, um sabor, o roçar ao de leve ou mesmo forte… amo-te porque te amo… porque te sinto bem quando me olhas… quando me tocas… quando me beijas… quando sinto que sentes a minha pele… quando te sorrio… quando ouves a minha voz… quando me rio… quando te toco, quando te acaricio e te faço sentir voar… amo-te quando estou aqui ou aí… amo-te mesmo quando não estamos ou não somos… amo-te porque sei que te amo, porque sinto que te amo, porque vivo esse amor duma forma terna, doce, suave e pura mesmo quando os corpos se entrelaçam e vibram em loucura… amo-te assim, tão simples…tão tudo em ti e em mim…”
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Lágrima
“…ele olhou-a nos olhos e viu uma tristeza profunda na alma ou lá onde é que a tristeza ou a alegria se instalam às vezes em nós… ele olhou-a nos olhos e viu o que ainda não tinha visto: a mágoa de não ser o que queria ser, a dor de não poder, o sofrimento do desejo insatisfeito ou ainda do satisfeito não desejado… olhou-a bem nos olhos e viu-a chorar por dentro sem que uma lágrima bailasse nas pálpebras tão serenamente abertas… olhou-a uma vez mais, sem pressas (ou altivez como quem percebe o que está a fazer, ou a sentir ou ainda a ver), com vagar, com doçura, com precisão… sentiu-lhe a pulsação acelerada quando lhe pegou na mão… tinha-a fria, quase gelada e aquele olhar tão triste ainda mais fria tornava aquela mão… pegou nela e levou-a até ao seu peito… espalmou-a bem de encontro à sua pele em peito nu e com a outra mão cobriu as costas dela forçando-a a ficar ali para que o calor a invadisse… não, nada lhe disse… ficou assim, olhando bem fundo dentro dela… aproximou a sua boca da boca dela, muito lentamente, e muito ao de leve pousou lá um beijo… nesse momento, sentiu nos seus lábios o sabor salgado de uma lágrima… saboreou o gosto e pousou-lhe a cabeça pendida no ombro… apertou-a contra ele e deixou-se ficar assim, juntos… um momento eterno para lembrar se tivesse sido filmado naquele momento… seria uma pose a lembrar para o resto da eternidade… sentiu a mão dela a aquecer e a sua face enrubescer num lento esgar de um sorriso… viu então o seu olhar, até ali perdido, encontrar-se em algum lugar… talvez dentro de si mesma, talvez dentro dele, talvez na fusão dos dois, não interessava, mas ele, o sorriso, ali se encontrava, um sorriso que brotava do calor dos corpos ou do bater de dois corações que se amam e tudo entendem… ele sorriu também, os corpos se moveram e se convulsionaram num espasmo de espanto e de sabor a tudo e a tanto… o doce sabor do perdão… o doce sabor da gratidão… o doce paladar do encontro, do confronto, do calor do ombro deixado de ser almofada para se tornar parte do abraço… e o riso se instalou num suave embalar dos dois ao mesmo tempo que aquela lágrima ficara lá, em lugar distante, perdida, a secar…”
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Adormecendo
“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
E em ti me eternizo
“…os meus olhos pousam em ti e todos os meus sentidos te olham num delirar mútuo de atenção... vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura... cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz.... ouço o teu respirar lento, como um lamento que não lamento… as minhas mãos tocam os teus cabelos e envolvem-se neles... acerco-me de ti e te toco... te sinto global e ali inteira frente a mim... beijo a tua boca e tudo se torna como num festim de doces carícias e sabor a sal... estou inteiro no teu corpo inteiro e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim... é apenas um abraço, um enlace de braços que apertam sem apertar, sentindo apenas o teu respirar... minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda... fecho os olhos procurando apenas sentir… e sinto o desejo crescer em mim e o teu arfar sobe de tom... como é bom... a minha boca se cola na tua boca e a minha língua se funde dentro dela como se da tua se tratasse... é apenas mais um enlace... sinto o teu peito quente junto ao meu e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura... loucura que me invade lentamente, premente ali presente ou então como se tudo mais estivesse ausente... meus braços te envolvem e se descobrem momento a momento como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem… sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor, oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor... minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele, todos os recantos de teus encantos e se encontram, de repente, sobre o teu ventre quente, dolente... afago tuas coxas e as tuas ancas e as aperto contra mim… procuro o teu sexo e o acaricio... beijo-te completamente num único beijo e me torno desejo do teu próprio desejo…te envolvo num abraço mais e te penetro… és tu que me possuis... não te tenho, és tu que me tens... movimentos doces se entrelaçam como se não fossemos dois mas um só... os nossos corpos se fundem num arfar profundo de prazer e loucura... já não sei o que sou, apenas em ti estou... eu sou tu e tu és eu numa fusão de ser e estar... na verdade és tu que me possuis pois eu não te tenho, és tu que me tens pois em ti eu me dou... e em ti eu me eternizo…”
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Tela
“…gosto de desenhar no meu corpo a pura entrega de quem ama… gosto de desenhar na minha alma a luz dessa verdade… escrever com os meus olhos a leitura da saudade… garatujar nos sons as palavras sussurradas… saborear na boca, nos lábios a doçura do mel do teu beijo desenhado desejo de quem procura o abraço esperado… gosto de desenhar nos teus ouvidos as letras que formam os sentidos… desenhar, por fim, já por sobre o esboço da obra final de quem no auge do encontro sente-se sonho sabendo ser real… pairar na tela do teu corpo e desenhar as cores do amor que num todo se move completo no ser que temos por modelo… e sendo-o, tê-lo, possuí-lo e transformar a obra num plano final que dá ao desenho o toque especial como que uma assinatura sobre a obra acabada… depois, ficar a mirar tudo o que havia sido feito para ter ali, na minha frente, a concretização do sonho e saber que todas as palavras ditas ou as desenhadas ou as escritas houveram sido assimiladas, saboreadas e entendidas como brotadas de dentro do meu ser… gosto de desenhar sim, no teu corpo, o meu eu e no fim ao olhar a tela preenchida em ti soubesse ali ter tudo o que havias querido da presença do meu amor…”
domingo, 29 de agosto de 2010
Desejo
“...te vejo ali, parada, me olhando só... não há palavras, nem medos, nem lágrimas... há apenas um olhar profundo e um toque suave como se fosse o toque mais importante deste mundo... te olho e te fixo a alma... te possuo mesmo antes de te tocar, de te amar, até mesmo antes de te olhar... é tudo muito mais forte do que o meu querer... olhar-te bem dentro mesmo sem te ver... sentir-te só de te desejar, ali, parada numa pose linda, somente a me olhar... fixo tua boca e te sorvo completa... te abraço sem te abraçar... te afago sem afagar... te penetro sem te penetrar... está tudo ali, em ti, a meu lado... basta te desejar... e meus olhos já te possuíram... e teus olhos já me abraçaram... e teus olhos já me sentiram... ali, sem questionar, me estendes a mão... vejo teu corpo a arfar.... e sentes minhas garras te tocar... e teu corpo em minha alma se entregar... tudo tão simples: apenas o desejo de te desejar...”
sábado, 28 de agosto de 2010
Trago comigo
"...trago comigo a seda do teu cabelo, a maciez do teu beijo, a doçura do teu toque, o brilho do teu olhar, a atenção do teu escutar... trago comigo, na minha pele, na minha alma, no meu coração, a tua essência aqui brotada em mim durante os momentos da fruição dos seres que se tomam serenos mesmo num simples abraço... é apenas um hiato de tempo este espaço que nos separa... de resto, tudo está aí como tudo está aqui... um saber de um sabor a sentidos vividos em amor..."
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
O deleite do amor
“… o teu corpo doce, deitado no leito, de pura seda acetinada feito, exalava o perfume perfeito… deixava antever, sem te tocar nem sentir, o esbelto prazer de olhar para ele e bastar sorrir… mais não seria necessário se a força do desejo se quedasse por ali… mas a languidez da libido perfurava todo o sentido em te possuir… aproximei-me de ti sem te olhar e sem que me visses… era apenas um desejo que bastava que sorrisses para que eu parasse e não prosseguisse… mas os teus lábios carnudos abriram-se em pétalas desnudos e me sorriram num convite perfeito… o ardor estava ali, a teus pés e meu corpo teceu o desejado amor de tudo o que depois aconteceu… volteámos a alma, os sentidos, a voz rouca, o arfar da pele, o toque no teu mar e o saboroso doce a mel… perfurei tuas entranhas em doces movimentos com forças tamanhas que te fizeram sugar teus próprios gemidos… a doçura perdura dentro de nós e antevê-se nos nossos olhos o desejo de, novamente, a sós, voltarmos a ser um só corpo e um só desejo num derradeiro lampejo de profunda paz… o deleite do amor que ele nos traz…”
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Plena entrega
"... abre-me os teus olhos e deixa-me mergulhar no teu olhar... abre-me os teus braços e deixa-me enlaçar no calor de um abraço... abre-me os teus lábios e deixa-me sentir o mel do teu beijo... abre-me o teu corpo e deixa-me ser possuído pelo desejo... abre-me a tua alma e deixa-me penetrar o teu ser... sentir tudo o que sei teres para me dar... amor de tanto amar... abre-me os teus ouvidos e deixa-me sussurrar as meigas palavras que tanto gostas de ouvir... e pele com pele sabermos que somos e sentirmos o doce aroma do mar que nos embala no cheiro da maresia que de nós mesmos exala... olharmos o interior do sermos apenas um acto de amor... mergulhar na seiva que a pele produz no sabor pleno em que tudo se transforma em luz... e o sol nos sorri, numa conspiração mútua do que ele sabe sobre mim e sobre ti... e o calor que nos abrasa arrefece-o porque mais forte que ele... e o amor preenche o momento em que nada mais somos do que pétalas suaves vogando nos ares como as asas das aves... e o seu planar, em pleno voo, de tanto sentirmos, tu te me entregas e eu a ti me doo...”
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Férias
...eu preciso de dar férias aos meus olhos
...por essa razão este blogue vai estar parado durante uns tempos
...estarei presente em espírito e o "Lobo" estará sempre aqui
...um abraço a toda a gente que me visita
...até breve
...por essa razão este blogue vai estar parado durante uns tempos
...estarei presente em espírito e o "Lobo" estará sempre aqui
...um abraço a toda a gente que me visita
...até breve
terça-feira, 3 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Decidir e agir
"...Há sempre algo que nos impede de fazermos o que achamos que não devemos fazer... como que, dentro de nós, houvesse uma espécie de censura que velasse pelas nossas acções... O que podemos e o que não podemos fazer é algo que, primeiro, vai à loja da censura e só depois segue para fabrico... A forma final do produto é que poderá ser diversa daquela que foi projectada... Onde nos leva tal atitude?... Que castração nos provoca semelhante sujeição?... Porque não fazemos apenas o que nos apetece fazer?... O que é isso de consciência?... Uma espécie de balança com uma série de pratos onde são pesados todos os prós e os contras daquela acção planeada... Porém, porque razão agimos de imediato, sem pensar, em momentos de crise duma forma a que chamamos de instinto?... Ou será que mesmo antes de agir instintivamente, a loja da censura funciona mesmo sem darmos por isso?... Será que há, na mesma, um pesar na balança?... Saltamos de imediato para o lado para evitarmos ser atropelados por uma carro mesmo sem vermos que podemos cair na valeta cheia de água suja da sarjeta... fugimos rápidos, em caso de incêndio por exemplo, da varanda para a rua sem olharmos à altura que nos separa dela e sem pensarmos que podemos partir uma perna... Porém, no dia a dia das nossas acções habituais de vida em que o instinto não é preciso, as nossas atitudes são “pesadas” antes de as tomarmos, como se de uma poção mágica se tratasse e fosse preciso tomar a medida exacta... Então, hesitamos antes de agir e somente depois actuamos... As nossas escolhas devidamente pensadas tanto podem dar para o certo como para o torto... não há maneira de sabermos se aquela decisão, ainda que devidamente gerida e equacionada, vai resultar em pleno... Mais tarde é que saberemos o resultado... Na verdade e a experiência mostra-nos isso, quando usamos o instinto, verificamos o resultado da acção então utilizada, de imediato, quer seja bom ou mau... também, de imediato, ficamos felizes ou infelizes com a opção tomada... Já quando apenas a tomamos depois de devidamente ponderada a questão, somente muito depois veremos o resultado... e até podemos viver angustiados aguardando o desfecho... será que fiz bem, será que fiz mal?... E agora?... Bem, só tenho que aguardar e esta espera, esta expectativa provoca angústia, provoca danos, provoca dor... Que faço?... Escrevo um texto sobre que tema?... Bem, vamos lá ver... Penso, repenso e nunca mais me surge a inspiração para desenhar algumas letras sobre um tema que nunca mais se faz luz em mim... Então, de imediato, começo a teclar instintivamente... saiu o que acabaram de ler... ao mesmo tempo que escrevia ia vendo o resultado de imediato daquilo que surgia no monitor... Não houve angústia... não houve dor... Utilizem o instinto o mais que puderem... Vão ver que, geralmente, dá certo... Também o pior que poderá acontecer é terem de perder tempo a ponderar a questão... Mas será que ponderar é assim tão mau?... Não sei, a decisão é sempre individual... Façam o que vos aprouver... façam o que vos der na real gana... Sejam felizes nem que para isso seja preciso chorar um pouco... É que, às vezes, umas lágrimas clarificam a situação e o panorama, após o choro, é um pouco mais claro!..."
domingo, 1 de agosto de 2010
sábado, 31 de julho de 2010
O nome do meu amor
"...desce-me pela garganta o sabor do seu nome... entra-me pelos olhos a visão do seu nome e todos os meus sentidos percebem o seu nome... é como algo físico em si mesmo elaborado e expresso em sabores diversos... são sentidos como formas de ternas ocorrências nos momentos em que o seu nome é pronunciado... não é só o ouvir que me delicia, é também toda a sua forma e todo o seu significado... nada tem de extraordinário... é tão simples, tão normal e tão suave... de tudo o que ele é formado, é apenas uma única coisa mais: é o nome do meu amor!..."
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Estrelas
“…deleito-me no leito de seda feito num sonho perfeito em que sem jeito me sinto vogar em teu peito… supero a minha ânsia de te tocar, de te embalar nos meus braços, soltos, livres, sem laços e passo para além do sonho em que vagueio na penumbra do teu quarto no qual nunca me farto de pairar e para ti olhar… e sinto-te plena de vida e de tudo o que quero alcançar… e sinto-te plena de tudo o que em mim pulsa sem parar… deleito-me tão-somente por te ver, ao ouvir o teu respirar… sei que teu ser pleno de vida me envolve na seda do sabor da minha ida como no amargor da minha partida… e em cada momento que me envolve, momento que a mim devolve todo o sentir que me percorre, eu sei-o pleno de amor, de ternura, de sabor, de doçura… e esse sentir, e esse saber ou esse sabor, bastam-me para voar de novo em pleno e suave voo em asas que não ouso usar mas que preenchem o meu modo de te amar… e o sonho vagueia de novo, nas noites de luar ou numa de lua nova que faz com que as estrelas te venham espreitar…”
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Sentir
“... és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal, o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto minha, sei que me sentes teu...”
segunda-feira, 26 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Correntes
“... a vida tem correntes que nos prendem e não nos deixam vaguear... são as correntes de ferro forjadas nas condições dos agravos que ela, a vida, nos abala... a vida tem correntes que nos levam em várias direcções como as vagas de um mar encapelado ou de um rio em tormenta... são as correntes invisiveis que nos empurram para a frente... a vida tem correntes sem correntes que nos fazem estagnar... são como os lagos mansos em que nem uma folha se move e assim, presa, depressa esmorece e morre... a vida tem tudo o que podemos desejar e tudo o que não queremos e temos de aceitar... a vida é bela e doutras vezes, do outro lado dela, a vida é como o fel em que o sabor doce do mel não existe e não se deixa provar por sedentas línguas de tanta e tanta gente neste longo mar a esbracejar... porém, a vida é uma realidade que nos faz aqui estar... ela nos empurra, ela nos prende, ela nos sujeita às mais diversas e caprichosas vontades de um poder mais forte que a nossa própria força... a chamada Lei da Atracção faz com que se consiga moldar a vida à nossa maneira, só que essa mesma Lei funciona para todos e se eu atraio para aqui haverá o meu oposto que atrairá para ali... vencerá algum ou perderemos os dois?... só a vida o saberá quando dermos pelo lado em que nos encontrarmos em determinado momento... porém, nada nos impede de continuar a perseguir sempre o mesmo caminho e, como tenho dito sempre e por, talvez, demasiadas vezes, vezes a mais, amar é o caminho e não interessa qual o caminho, interessa isso sim, caminhar... mesmo que as correntes nos prendam ou nos empurrem, forcemos os elementos que nos cercam e caminhemos em frente com a firme certeza que o amor está lá, lá bem ao fundo, em algum lugar à nossa espera... não desesperemos... avancemos com redobrada força... tenhamos confiança... acreditemos que amamos, que somos fiéis e que somos verdadeiros, no mínimo com nós mesmos... viva-se o momento, momento a momento apenas com um único intento: chegar lá, chegar aos braços do ser que amamos, do ser que desejamos alcançar, mantê-lo ao nosso lado, abraçar, beijar, sentir, viver, enfim, numa palavra, amar...”
sábado, 24 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Espelho
“…torno-me espelho de mim mesmo e a luz que em mim me toca, se reflecte no exterior do meu ser… espalho o que sou no espaço em meu redor… vejo-me diverso e dividido em milhares de partículas de luz, facto que tanto me seduz… porém, receio quebrar-me em mil pedaços e perder a magia destes meus ténues passos pelo mundo da fantasia… elejo-me mentor de mim mesmo e, sereno, torno-me pleno daquilo que sou: uma partícula apenas no meio do nada que me rodeia… mas a minha imagem, por todos os lados dividida, semeia no espaço em que me insiro tudo o que tenho por pouco que seja e eu sinto que a verdade deste louco imaginar, mais não é do que o desejo de o ser, de em mil imagens me tornar e… me dar…”
terça-feira, 20 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Queria apenas ser o teu sonho
"...Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso... a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim... brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras... a beleza em ti não residia nem morava ... era!... A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar... a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade... e tu, demoravas... da cómoda tiraste um frasquinho de perfuma e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam... e a tua cama, ansiava pela tua presença... e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo... levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença... olhaste de soslaio e sorriste... sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria... Tiraste os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito... a tua cama nem sequer se moveu... aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder... a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento... deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos... Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligar; os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia... e a tua cama sentia... na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão... olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente... avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento... a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente... em suas mãos te acabavas de entregar... e o sono chegou.... adormeceste... não sei mais o que se passou... a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu... a tua cama não se movia, com receio de te acordar; abraçava-te sempre para não te deixar fugir... sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali... tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas... a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha... sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia... nada mais desejava...
Queria apenas ser o teu sonho..."
Queria apenas ser o teu sonho..."
domingo, 18 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
Desejo
“...te vejo ali, parada, me olhando só... não há palavras, nem medos, nem lágrimas... há apenas um olhar profundo e um toque suave como se fosse o toque mais importante deste mundo... te olho e te fixo a alma... te possuo mesmo antes de te tocar, de te amar, até mesmo antes de te olhar... é tudo muito mais forte do que o meu querer... olhar-te bem dentro mesmo sem te ver... sentir-te só de te desejar, ali, parada numa pose linda, somente a me olhar... fixo tua boca e te sorvo completa... te abraço sem te abraçar... te afago sem afagar... te penetro sem te penetrar... está tudo ali, em ti, a meu lado... basta te desejar... e meus olhos já te possuíram... e teus olhos já me abraçaram... e teus olhos já me sentiram... ali, sem questionar, me estendes a mão... vejo teu corpo a arfar.... e sentes minhas garras te tocar... e teu corpo em minha alma se entregar... tudo tão simples: apenas o desejo de te desejar...”
sexta-feira, 16 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
E em ti me eternizo
“…os meus olhos pousam em ti e todos os meus sentidos te olham num delirar mútuo de atenção... vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura... cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz.... ouço o teu respirar lento, como um lamento que não lamento… as minhas mãos tocam os teus cabelos e envolvem-se neles... acerco-me de ti e te toco... te sinto global e ali inteira frente a mim... beijo a tua boca e tudo se torna como num festim de doces carícias e sabor a sal... estou inteiro no teu corpo inteiro e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim... é apenas um abraço, um enlace de braços que apertam sem apertar, sentindo apenas o teu respirar... minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda... fecho os olhos procurando apenas sentir… e sinto o desejo crescer em mim e o teu arfar sobe de tom... como é bom... a minha boca se cola na tua boca e a minha língua se funde dentro dela como se da tua se tratasse... é apenas mais um enlace... sinto o teu peito quente junto ao meu e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura... loucura que me invade lentamente, premente ali presente ou então como se tudo mais estivesse ausente... meus braços te envolvem e se descobrem momento a momento como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem… sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor, oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor... minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele, todos os recantos de teus encantos e se encontram, de repente, sobre o teu ventre quente, dolente... afago tuas coxas e as tuas ancas e as aperto contra mim… procuro o teu sexo e o acaricio... beijo-te completamente num único beijo e me torno desejo do teu próprio desejo…te envolvo num abraço mais e te penetro… és tu que me possuis... não te tenho, és tu que me tens... movimentos doces se entrelaçam como se não fossemos dois mas um só... os nossos corpos se fundem num arfar profundo de prazer e loucura... já não sei o que sou, apenas em ti estou... eu sou tu e tu és eu numa fusão de ser e estar... na verdade és tu que me possuis pois eu não te tenho, és tu que me tens pois em ti eu me dou... e em ti eu me eternizo…”
quarta-feira, 14 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Nudez
"... porque te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?... para te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?... porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz que te cega?... para não olhares, para não veres o que sempre desejaste ver?... porque me dizes que sim quando do teu peito sai um gritante não?... para não teres de balbuciar um talvez?...porque pensas que pensas o que não pensas?... para pensares no que eu penso que tu pensas?... não, o melhor é mesmo não pensares… porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos estão presas e cheias de dúvidas?... porque desejas libertação se o que intimamente queres é estar quieto na bonomia do turbilhão?... porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a negrura da alma que te compõe o sentir?... porque não mentes se é tão doce mentir?... porque não calcas a doçura do mel?... porque não espezinhas a palavra calada?... porque não escreves o nada que tens para dizer?... que te disse eu que tu já não soubesses?... aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?... que sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou apenas de sabermos que nada sabemos?... porque te manténs sentada de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?..."
segunda-feira, 12 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
Diálogo com a Serenidade
“... a calma tinha-se aproximado de mim como não me conhecesse... eu já a conhecia há muito pese embora os grandes momentos em que não a via ou não me encontrava com ela... porém, naquela vez, ela fez de conta que não sabia quem eu era... aproximou-se mansamente e como quem não quer a coisa, saudou-me ao de leve com um leve acenar pela passagem, pelo encontro... não lhe liguei demasiada importãncia mas educadamente correspondi ao seu aceno e sorri-lhe... foi nesse momento que ela olhou para mim e, de chofre, me perguntou: - Porque sorris?... Naquele instante não encontrei resposta mas uns segundos após, saiu-me uma frase lenta e suave: - Porque não haveria de sorrir?... Acho estranho, disse ela: Estás sempre preocupado, cheio de problemas, a tua cabeça é um vulcão, a tua alma desespera, o teu coração bate e os teus olhos não choram... Pois, respondi eu, eu sei mas por vezes caio em mim e entendo que de nada me vale o lamento; por certo que estou errado quando desfaleço e sentado ou deitado me concentro nas agruras da vida; depois penso que a vida é apenas aquilo que dela fazemos, aquilo que dela queremos, aquilo que dela podemos tirar... a vida nada nos dá excepto ela mesma, ou seja, ela se nos entrega numa única vez e após instalada em nós, somos nós mesmos que a gerimos... temos esse poder, o poder de moldar os dias, as horas, os minutos e até mesmo os segundos dos nossos momentos aqui e agora, ontem e, quem sabe senão ela, também amanhã... somos nós que decidimos enfrentar ou não o momento que se nos depara, seja ele bom ou mau... é apenas uma questão de escolha... mas tu não eras asssim, disse-me ela, a calma... sim, eu sei... na verdade, a vida foi tão diversa e tão cheia de coisas e coisas que houve vezes em que não te consegui enfrentar ou mesmo aceitar e desesperei... porém, houve também momentos em que soube que me podias ajudar... por isso te sorri agora... sei que me podes inundar e tornar-me pleno de mim mesmo e conceder-me ainda mais a capacidade de me dar ainda mais do que já tentei... sei que me ajudarás... porque me trazes a sabedoria, a sensatez, a alegria, a ternura de me saber feliz ao sentir que amo, que o caminho que percorro é o único que me pode serenar, o único que me pode pacificar, a caminhada plena para amar... e, com amor, se ama e com amor se perpectua a nossa vida, mesmo para além da morte... por isso, hoje, te sorrio por saber o quanto amo quem amo, quem me dá a plenitude da serenidade, num amar terno e seguro, forte e puro, real que de tão real, a ti o juro...”
sábado, 10 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Ensaio sobre a solidão
“…depressa me canso de mim… olho à minha volta e só vejo recordações… uma terna claridade invade o meu quarto e me rodeia de mansinho… já reparei várias vezes: vem sempre acompanhada do silêncio!… nunca soube o porquê de tal evento… é uma luz difusa, lenta, como que surgindo a medo e com ela, um opaco silêncio… algo que nada traz a não ser paz… mas trazê-la já é bom… e é nesses momentos que me sinto só… e sabem porquê?… porque não tenho com quem partilhar esse momento!… algo que sempre desejei fazer um dia na minha vida: partilhar a minha solidão… dizer a alguém: “…Vês?… Estás a ouvir?… A minha solidão está aqui, é isto que vive aqui comigo… Entendes?…”… mas nunca consegui e nunca o consegui porque nos momentos em que a solidão me visita eu nunca estou acompanhado… engano, estar acompanhado estou mas apenas de mim mesmo e dessa luz e desse silêncio… já somos três… estendo-me então no leito dessa luz e deixo-me levar pelo barulho do silêncio que me invade… nunca é tarde para experimentar novas sensações, só que esta é já demasiadamente minha conhecida e então apenas nos olhamos e nos aceitamos mutuamente… nada mais fazemos senão partilhar aquele momento, uma partilha a três numa solidão solitária de um só… estendido nela e com o silêncio deitado a meu lado, olhamos o tecto que lentamente se separa de nós em tons de cinzentos cada vez mais escuros… passo os braços pelo silêncio e aperto-o de encontro ao meu peito… sinto o seu respirar lento e compassado… é um som simpático, eu sei, mas ao mesmo tempo ousado na medida em que invade o som do bater do meu coração… e o silêncio deixa de ser silêncio para ser um baque surdo ritmado aqui, ao meu lado, deitado… no entanto, continuo abraçado a ele e ele sente-se bem porque acarinhado… é um abraço puro mas forte… ingénuo mas apaixonado… é apenas um abraço de silêncio compartilhado num leito de claridade a escurecer em lentos tons que tem o anoitecer… porém, já quando o tecto se separa de nós e nos abandona entregues que ficámos à luz das trevas que entretanto nos envolvem, o silêncio se aperta contra mim e me possui… penetra-me fundo e a respiração torna-se ofegante, sufocante… o que até então era um prazer compartilhado passa a ser dor e algo que corrompe… penetra-me cada vez mais fundo e a dor aumenta… o bater e o som do meu coração ultrapassa o silêncio que entretanto se esvai num orgasmo de sons delirantes de espasmos gigantes que se avolumam dentro de mim… o tecto já não existe, a obscuridade ainda persiste com mais intensidade… é um estar sem vida, sem morte e sem idade… apenas habita em mim numa eterna cumplicidade… respiro o espaço que me rodeia… e a escuridão cai sobre tudo e me envolve como uma teia… já tenho mais uma companhia… o doce sono vem de mansinho amparar meu corpo e cobre-o com carinho… adormeço lento, extenuado de tanta amargura, numa vã procura do próximo amanhecer que de novo me vai trazer o fim de tarde, neste terno ciclo de amor e ódio em que espero pela eternidade…”
quinta-feira, 8 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Silêncio
"...Há um silêncio absoluto aqui até mesmo dentro de mim... Estou só, acompanhado apenas da minha solidão... por isso, não estou sozinho... estou acompanhado, logo não estou só... Estranho... O silêncio penetra dentro de mim sem pedir licença... também não sou capaz de lhe impedir a entrada... ele é tão livre quanto eu e eu, possuidor dessa liberdade, deixo-o entrar e sinto que a excitação que ele me provoca é sinal de prazer... Um prazer proveniente da paz que ele, o silêncio, alberga... Com ele, vem apenas o som da deslocação do ar quando ele chega sem avisar... É que, de repente, só (estando só) o sinto quando ouço o silêncio da sua chegada... Senta-se aqui ao meu lado e vejo perfeitamente que ele me olha de soslaio... mas não lhe ligo importância... quem se julga ele?... Alguém de muito especial?... Devo-lhe alguma deferência?... Não... Não lhe franqueio sempre a entrada?... Então, que mais ele quer?... Que lhe dirija a palavra?... Não!... Mil vezes não!... Se o deixo penetrar-me é porque assim o desejo e o quero, em silêncio, em paz, ouvindo-o sem o ouvir... sabendo apenas que ele está aqui... A solidão, por seu lado, essa não se importa muito pela presença dele... já está habituada... Olha-o com desdém como se ele, o calado silêncio, fosse ninguém... Sabe muito bem que ele não me faz mossa... sabe perfeitamente que ela, a solidão, é que é a minha amante preferida, hoje cinzenta (pode ser) mas amanhã, quem sabe, se colorida... É apenas a paz que me traz sereno e me faz sentir o seu frio ameno... é que o silêncio tem temperatura, ora é doce e quente, ora azedo e frio... mas já reparei imensas vezes que quando é azedo se sente um frio ameno... não enregela nem me estremece o corpo... amorna-me a alma e deixo-me ficar na mordomia da sua presença... É tudo apenas um estado de solidão a sós com o silêncio que me faz companhia... Por isso, não esfria... Deixa-me estar como quero... E ele se queda também e fica... Não incomoda... Sabe que a qualquer momento que eu queira, o mando embora... sabe que um grito forte pode, num ápice, cortar o ar que ele deslocou ao chegar... Ele sabe isso e por isso não se preocupa comigo... Mantém apenas um vago olhar... Como quem não sabe se parta ou se deve ficar... Depende apenas e só do meu grito... se este, o grito, do meu peito sair com força, com ânimo, com desejo de ser quem sou e não quem quero parecer ser... O problema com que me debato é saber o que sou ou mesmo até quem sou... Serei eu próprio o silêncio?..."
terça-feira, 6 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Entrega
“… tivesse eu as capacidades de um deus, mesmo dos da antiguidade, de um Zeus, de um Júpiter ou mesmo de um Marte ou até mesmo, porque não, duma Diana… tivesse eu os poderes de tudo demonstrar sem ter de provar, ou seja, bastar ser e não ter de provar que sou o que sou ou quem sou… tivesse eu toda essa força mágica e logo seria a mais pura prova do que há muito persigo: seria o Amor transformado em entrega, seria o Amor pleno, aquele que vive de si mesmo para se bastar e na totalidade se entregar… o Amor que deixaria de o ser para passar ao patamar superior do estatuto da fórmula única da vida plena que é Amar… passamos tempos e tempos sem sabermos o que é isso do Amor ou como é que se Ama e um dia, sem sabermos como, tudo surge ali, à nossa frente, sereno, demonstrativo da nossa anterior ignorância e dizendo-nos bem no nosso interior que o Amor está aqui dentro de cada um de nós e, como tal, livre de ser entregue ao próximo… e é nesse momento, quando o Amor sai de dentro de nós e o entregamos a alguém que ele se transforma numa dádiva e assim, de uma forma tão simples, passamos a Amar… esta entrega, esta forma de se estar na vida, pressupõe a inexistência de condições incluindo o não retorno, ou seja, amar mesmo que não nos amem… essa é a única forma de provar a nós mesmos que estamos a Amar e não tão pobremente apenas a gostar… é por isso que estou sempre a falar do mesmo, a batalhar todo o tempo na tentativa de demonstrar, sem ter de provar, que Amar é a minha forma de ser… tentar provar que se ama é uma forma de se negar a si mesmo porque quem ama não precisa de se afirmar: entrega-se, apenas… entrego-me a ti nas mais pequeninas coisas, mesmo até nos elementos que não são visíveis mas que existem, que estão lá, em ti, vindas de mim… entrego-me a ti sem perder a minha identidade, sem deixar de ser eu mesmo mas o que sou o transmito, o envio, o entrego em totalidade… entrego-me a ti em serenidade, em luz, em paz, em harmonia, com força, com garra, com espírito e alegria… entrego-me a ti num sorriso, num toque, numa palavra, numa frase… entrego-me a ti num beijo, num corpo, numa alma, com a totalidade do meu eu… entrego-me a ti tal como sou, impuro talvez, mas com doçura, em humildade e sem qualquer altivez… entrego-me a ti por amor…”
domingo, 4 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
Já se passaram 7 anos
“…faz hoje 7 anos!...
Acordei razoavelmente bem disposto. Levantei-me, fui para a casa de banho e, como de costume, ao fim de uma horita de lá saí pronto para o dia que se me apresentava pela frente. Por hábito, a seguir tomaria o pequeno-almoço mas não o fiz pois tinha de ir em jejum. (Chatice) Aguardei a hora e lá fui em direcção ao estabelecimento onde iria ser retalhado. (Cruzes)
Chegado, subi a escadaria, entrei na Secretaria (rimou), assinei os papéis e lá me levaram para o quarto. Choque. Quarto 155. Este número tem uma história e há quem a conheça; quando reparei que o quarto tinha aquele número, hesitei mas a funcionária lá me convenceu a aceitar aquele e não qualquer outro; afinal de contas, tanto poderia ser um mau como um bom sinal.
Ainda era cedo. 10 da manhã e a cirurgia só seria às 3 da tarde daquele dia 3 do mês 7 do ano 3 (há um ano atrás, claro…)
Mandaram-me vestir o pijama e deitar-me e aguardar. Assim fiz. Ao fim da manhã veio um enfermeiro fazer-me a barba à zona púbica e não me arrepiei nem um niquinho ao ver aquela lâmina enorme junto das minhas partes mais sensíveis. Entretanto senti frio e meti-me debaixo da roupa.
Por volta das 2 surgiu um cardiologista para me fazer o ecg para ver se eu estava em ordem para a anestesia.
Estava que nem um lorde. Uma calma absoluta que as tensões e as pulsações não deixavam mentir; estava em perfeitas condições para o sono artificial.
Enfim, a hora aproximava-se e lá veio o cirurgião com aquele sorriso simpático que lhe dava um ar de confiança absoluta (atitude que me concedeu uma paz de espírito total) e me permitiu encarar a cirurgia complicada (ainda que rápida) com calma.
Dez dias antes, no seu consultório, ele me havia dito todos os pormenores da cirurgia; a operação à hipertrofia da próstata seria feita através da introdução de um aparelho pela pila dentro (chiça); dentro desse tubo, um estilete com uma lâmina na ponta iria lá ao sítio cortar finíssimas camadas da dita cuja trazendo-as no retorno indo ao interior tantas quantas vezes fosse necessário; nos intervalos de cada viagem, um outro estilete a 200 graus de temperatura iria cauterizar as artérias que iriam ser cortadas com a lâmina. Isto, na verdade, não é agradável de ler quanto mais de ouvir dizer que nos vão fazer. Mas como ele me garantiu que nada iria sentir nem durante nem depois, nas mãos dele me entreguei com absoluta confiança.
Por outro lado, como tinha também uma hérnia inguinal, com um só tiro se matariam 2 coelhos, pelo que também me iriam operar a indesejada companhia.
E assim foi. Vestiram-me a bata (adorei a boina plástica que me puseram na cabeça), deitaram-me na maca e assim fui para o bloco vendo o tecto deslizar acima de mim.
Entrado no dito, de imediato me “esticaram” na marquesa operatória e me começaram a preparar a anestesia por 2 simpáticas médicas às quais me permiti dizer 2 coisas:
“Façam-me dormir o suficiente para que quando acordar eu tenha fome para comer um cabritinho assado”, e:
“Outra coisa: não se esqueçam de dizer ao operador que a hérnia é ali no lado esquerdo” (não fosse o diabo tecê-las)
Foi uma risota naquele bloco e a verdade é que não demorei um minuto a adormecer!...
E pronto!... Acordei por volta das 6 e meia da tarde a pedir o cabritinho mas não me deram… só no dia seguinte é que me deixaram comer. O que um “lobo” sofre…
E aqui estou mais “famoso” que nunca!
Este texto serviu para recordar o “evento” e, ao mesmo tempo fazer o exorcismo a este ciclo de 7 anos que acaba de passar...”
Acordei razoavelmente bem disposto. Levantei-me, fui para a casa de banho e, como de costume, ao fim de uma horita de lá saí pronto para o dia que se me apresentava pela frente. Por hábito, a seguir tomaria o pequeno-almoço mas não o fiz pois tinha de ir em jejum. (Chatice) Aguardei a hora e lá fui em direcção ao estabelecimento onde iria ser retalhado. (Cruzes)
Chegado, subi a escadaria, entrei na Secretaria (rimou), assinei os papéis e lá me levaram para o quarto. Choque. Quarto 155. Este número tem uma história e há quem a conheça; quando reparei que o quarto tinha aquele número, hesitei mas a funcionária lá me convenceu a aceitar aquele e não qualquer outro; afinal de contas, tanto poderia ser um mau como um bom sinal.
Ainda era cedo. 10 da manhã e a cirurgia só seria às 3 da tarde daquele dia 3 do mês 7 do ano 3 (há um ano atrás, claro…)
Mandaram-me vestir o pijama e deitar-me e aguardar. Assim fiz. Ao fim da manhã veio um enfermeiro fazer-me a barba à zona púbica e não me arrepiei nem um niquinho ao ver aquela lâmina enorme junto das minhas partes mais sensíveis. Entretanto senti frio e meti-me debaixo da roupa.
Por volta das 2 surgiu um cardiologista para me fazer o ecg para ver se eu estava em ordem para a anestesia.
Estava que nem um lorde. Uma calma absoluta que as tensões e as pulsações não deixavam mentir; estava em perfeitas condições para o sono artificial.
Enfim, a hora aproximava-se e lá veio o cirurgião com aquele sorriso simpático que lhe dava um ar de confiança absoluta (atitude que me concedeu uma paz de espírito total) e me permitiu encarar a cirurgia complicada (ainda que rápida) com calma.
Dez dias antes, no seu consultório, ele me havia dito todos os pormenores da cirurgia; a operação à hipertrofia da próstata seria feita através da introdução de um aparelho pela pila dentro (chiça); dentro desse tubo, um estilete com uma lâmina na ponta iria lá ao sítio cortar finíssimas camadas da dita cuja trazendo-as no retorno indo ao interior tantas quantas vezes fosse necessário; nos intervalos de cada viagem, um outro estilete a 200 graus de temperatura iria cauterizar as artérias que iriam ser cortadas com a lâmina. Isto, na verdade, não é agradável de ler quanto mais de ouvir dizer que nos vão fazer. Mas como ele me garantiu que nada iria sentir nem durante nem depois, nas mãos dele me entreguei com absoluta confiança.
Por outro lado, como tinha também uma hérnia inguinal, com um só tiro se matariam 2 coelhos, pelo que também me iriam operar a indesejada companhia.
E assim foi. Vestiram-me a bata (adorei a boina plástica que me puseram na cabeça), deitaram-me na maca e assim fui para o bloco vendo o tecto deslizar acima de mim.
Entrado no dito, de imediato me “esticaram” na marquesa operatória e me começaram a preparar a anestesia por 2 simpáticas médicas às quais me permiti dizer 2 coisas:
“Façam-me dormir o suficiente para que quando acordar eu tenha fome para comer um cabritinho assado”, e:
“Outra coisa: não se esqueçam de dizer ao operador que a hérnia é ali no lado esquerdo” (não fosse o diabo tecê-las)
Foi uma risota naquele bloco e a verdade é que não demorei um minuto a adormecer!...
E pronto!... Acordei por volta das 6 e meia da tarde a pedir o cabritinho mas não me deram… só no dia seguinte é que me deixaram comer. O que um “lobo” sofre…
E aqui estou mais “famoso” que nunca!
Este texto serviu para recordar o “evento” e, ao mesmo tempo fazer o exorcismo a este ciclo de 7 anos que acaba de passar...”
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Acerca dele
“...ele envelheceu um pouco nestes últimos tempos... nota-o quando olha o espelho ao desfazer a barba... interessante é notar também os pêlos brancos do peito... também não é para admirar... Mas a vida é assim, a vida prega partidas com as quais não se conta... A vida poupo-o durante muitos anos mas nestes últimos dez não foi fácil... Começou pela falência em 95 da sua empresa e os problemas inerentes e subsequentes deram chatices e as pressões provocaram danos... mais tarde, foram problemas do foro afectivo e a seguir problemas de saúde... Passou alguns maus bocados... Quando tudo parecia estar “resolvido” um novo factor destabilizante surgiu para lhe provocar novas dores de cabeça... Há já mais de um ano que ele vive só na companhia de duas velhinhas de 90 anos, sua mãe e uma sua tia... esta já se encontrava acamada mas tudo se ia resolvendo de forma consertada entre ele e sua mãe... porém, eis senão quando, sua mãe também cai doente mas sem doença, “cai” de cansaço, de velhice, de tempos demasiados de pesada vida ao longo de muitos e muitos anos... Ele é filho único e não tem mais ninguém a quem recorrer... tem os filhos mas estes estão um pouco longe e têm as suas vidas... sempre que podem e tal se torne necessário, eles o ajudam em casos específicos... No entanto, para o dia a dia, ali presente, ele está só... E sente-se só... Face aos acontecimentos, teve de criar uma rotina, pois os tratamentos, as medicações e outros factores a isso obrigam... assim, levanta-se por volta das sete e trinta... abre as janelas para que a luz ilumine o ambiente... liga o fogão... prepara a tia para a higiene matinal... depois prepara o pequeno-almoço para ela e termina com o refazer da cama e da limpeza do quarto... Segue-se idêntico tratamento para sua mãe ainda que não esteja incluída a higiene na medida em que ela ainda a consegue proceder de moto próprio...
Depois delas “arrumadas” ele vai “tratar” de si mesmo... Por volta das dez da manhã sai e vai fazer as compras que entende necessárias e toma o café da manhã (vício de longos e longos anos)... Regressa a casa e vai ao computador ver o que se passou durante a noite... lê os mails e escreve alguma coisa, pouca é certo pois é necessário ir fazer o almoço... Tem de fazer as “coisas” como faz no pequeno-almoço: primeiro trata da alimentação da tia e depois almoça ele mais a mãe... findo o almoço segue-se o arrumar da mesa e dos demais acessórios e o lavar da loiça... Por volta das catorze e trinta está “livre” e vai sentar o corpo para descansar a sesta... A rotina regressa por volta das dezoito horas e segue os mesmos termos até às nove... É nesta altura que ele se senta em frente do seu portátil e tenta distrair os seus nervos... nervos que se vão deteriorando não por um cansaço físico mas por um sentimento de impotência perante aquilo que a vida lhe deu... sente-se cansado por “dentro”... Então, fala dos “seus” pardais, do gato e do cão, do seu quintal e do sol que se põe sempre a oeste... fala das suas rosas, das nuvens e do vento leste... fala de tudo, menos dele e do “lobo” que há dentro dele… Fala de amor, do amor, de como amar sem posse nem destino... fala de amor incondicional e não o entendem... fala dos voos palermas dos pardais e escreve alguma poesia… Gosta de escrever contos, pequenos textos e alguns pensamentos... gosta muito de fotografia e gosta de as legendar... Fala sobre palavras… ama-as e ama as pessoas…
A resolução do problema passa pelo provável internamento da tia, mas tudo leva o seu tempo neste burocrático país de papéis e petições... Entretanto tem de ser assim...
Às vezes nota-se nele um desânimo e uma tristeza latente... Mas sente-se que a tenta ultrapassar; vê-se muitas vezes um sorriso aberto nos lábios e os passeios pedestres que ele faz ao meio da tarde servem para desanuviar a tensão acumulada durante o dia... Diariamente lhe perguntam como é que vão as doentes... invariavelmente e a sorrir, responde sempre da mesma forma: “Obrigado, as minhas velhinhas estão bem!...” ...
(P.S. - este texto foi escrito em 2003... em 2004 a tia faleceu e ficou só com mãe...e há cinco anos que ele se encontra nesta "prisão", neste túmulo de silêncio... mas ainda não parou de escrever... continua a falar sobre o Amor, sobre as flores, sobre a Amizade... mas vê-se que está cansado... vê-se que a liberdade que ele tanto necessita não o habita... prende-o...)
Depois delas “arrumadas” ele vai “tratar” de si mesmo... Por volta das dez da manhã sai e vai fazer as compras que entende necessárias e toma o café da manhã (vício de longos e longos anos)... Regressa a casa e vai ao computador ver o que se passou durante a noite... lê os mails e escreve alguma coisa, pouca é certo pois é necessário ir fazer o almoço... Tem de fazer as “coisas” como faz no pequeno-almoço: primeiro trata da alimentação da tia e depois almoça ele mais a mãe... findo o almoço segue-se o arrumar da mesa e dos demais acessórios e o lavar da loiça... Por volta das catorze e trinta está “livre” e vai sentar o corpo para descansar a sesta... A rotina regressa por volta das dezoito horas e segue os mesmos termos até às nove... É nesta altura que ele se senta em frente do seu portátil e tenta distrair os seus nervos... nervos que se vão deteriorando não por um cansaço físico mas por um sentimento de impotência perante aquilo que a vida lhe deu... sente-se cansado por “dentro”... Então, fala dos “seus” pardais, do gato e do cão, do seu quintal e do sol que se põe sempre a oeste... fala das suas rosas, das nuvens e do vento leste... fala de tudo, menos dele e do “lobo” que há dentro dele… Fala de amor, do amor, de como amar sem posse nem destino... fala de amor incondicional e não o entendem... fala dos voos palermas dos pardais e escreve alguma poesia… Gosta de escrever contos, pequenos textos e alguns pensamentos... gosta muito de fotografia e gosta de as legendar... Fala sobre palavras… ama-as e ama as pessoas…
A resolução do problema passa pelo provável internamento da tia, mas tudo leva o seu tempo neste burocrático país de papéis e petições... Entretanto tem de ser assim...
Às vezes nota-se nele um desânimo e uma tristeza latente... Mas sente-se que a tenta ultrapassar; vê-se muitas vezes um sorriso aberto nos lábios e os passeios pedestres que ele faz ao meio da tarde servem para desanuviar a tensão acumulada durante o dia... Diariamente lhe perguntam como é que vão as doentes... invariavelmente e a sorrir, responde sempre da mesma forma: “Obrigado, as minhas velhinhas estão bem!...” ...
(P.S. - este texto foi escrito em 2003... em 2004 a tia faleceu e ficou só com mãe...e há cinco anos que ele se encontra nesta "prisão", neste túmulo de silêncio... mas ainda não parou de escrever... continua a falar sobre o Amor, sobre as flores, sobre a Amizade... mas vê-se que está cansado... vê-se que a liberdade que ele tanto necessita não o habita... prende-o...)
quinta-feira, 1 de julho de 2010
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Impossível provar
“... não existe forma de se provar ao ser que amamos que o amamos... não há sinais, nem falas, nem gestos, nem toques, nem palavras... não existe nada que possa significar ou ter o sentido de dizer e provar ao ser que amamos que o amamos... se não existe então forma de o fazermos, como podemos provar ao ser objecto do nosso amor que o amamos?... não podemos provar!... e não podemos provar porque não existe forma de o fazer, logo só o conseguimos amar se na verdade o amarmos... e é amando-o nas mais pequeninas coisas que, sem provar, lhe vamos dizendo que o estamos a amar... é preciso que o ser que é amado sinta que é amado e essa é a única forma desse ser ter a certeza que é amado... quem ama não pode provar que ama mas quem é amado sabe sentir que o é... logo, a forma de provarmos que amamos o ser que amamos é este ser sentir que é amado... e só este ser que é amado saberá entender a verdade do nosso amor... e então, aí sim, ele saberá que é amado nas mais pequeninas coisas que fizermos, que dissermos, quando tocamos, quando gesticulamos, quando lhe enviamos um sinal, um olhar, uma forma do nosso próprio estar que nos é peculiar e único quando estamos a amar esse ser... o ser amado saberá que o é mesmo que quem o ama não o consiga provar, nem metafórica nem fisicamente... amamos com o nosso sentir, com o nosso coração, com o nosso corpo e com a nossa Alma, mas todos estes elementos são refutáveis, logo só o outro, quem é amado, saberá distinguir do nosso sentir, do nosso coração, do nosso corpo, da nossa Alma, os elementos comprovativos do amor que por ele nutrimos... como sempre disse, amar é dar, logo só quem recebe é que sentirá essa dádiva... é pois, dando-me-te por completo, que te amo... é pois, recebendo-me por completo que sentirás o meu amor...”
terça-feira, 29 de junho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
Pedir
“... pedi para ver o invisível e deram-me a cegueira... pedi para ouvir o inaudível e obtive o silêncio... pedi para tactear o nada e consegui o caos do tudo... pedi sempre o que quer que fosse que me viesse à ideia e o retorno era sempre o oposto... a conclusão óbvia era não pedir ou então pedir apenas o real, o vivo, o palpável, o som, a luz, a beleza... nunca tive a certeza se terá sido a melhor opção... mas a verdade é que a partir do momento em que pedi apenas o viável, as coisas se tornavam passíveis de obtenção... pedi amor e tive-te... pedi um beijo e saboreei-te os lábios... pedi um abraço e amornei meu corpo na tua sedosa pele... pedi um toque e tive-te completa... pedi um olhar e consegui a imagem real... pedi um som e ouvi tua voz num doce dizer que me amas... pedi-te presente e tenho-te em mim por completo... pedi uma ternura e senti amor... pedi apenas o que podia obter e nada me foi por ti negado... senti-me preenchido pelas mais pequeninas coisas que de tão pequeninas se tornam no todo tão desejado... pedi para te amar e senti-me amado... que mais te posso eu pedir que já não me tenhas dado?...”
sábado, 26 de junho de 2010
sexta-feira, 25 de junho de 2010
O uivo
Levantou-se com um sobressalto, que a fez erguer a coluna num impulso sôfrego, um nó de desespero atado na garganta. Segurou-a com uma das mãos, como se contivesse a respiração ainda ofegante. A escuridão estava toda emersa numa tonalidade azul, criando uma atmosfera quase irreal no interior do quarto. Uma estranha luminosidade vinha do exterior, e penetrava no quarto pelo espaço entre as velhas cortinas desbotadas. Dirigiu-se à janela como se algo a chamasse. Espreitou por trás do veludo envelhecido do reposteiro e viu um vidro quebrado, estilhaçado no canto inferior esquerdo. Formava um desenho perfeito de uma teia. Tocou-lhe e automaticamente levou o dedo à boca, sugando o sangue do corte que acabara de sofrer. Soltou um breve gemido de dor, frustrado de fúria. Lá fora, a lua erguia-se gigantesca, majestosa, rodeada de uma aura azul intensa, que cobria todas as coisas de improváveis reflexos. Sentiu um incómodo arrepio, como uma fria corrente enferrujada a mover-se no interior da espinha. O espaço à sua volta, de súbito, ganhava novos contornos. Estremeceu perante um breve desacerto do mundo. Julgou ouvir ruídos, um estalar de madeira, ecos de passos atrás de si, o som das sombras a mover-se pelas paredes do quarto. Voltou-se e tremeu. Deu dois passos incertos, esquecida do próprio corpo. O chão estava alagado; os pés descalços enregelados. Ouvia uma torneira aberta, que pingava lentamente. O som adensava-se segundo a segundo, ecoava pela casa toda, cada vez mais próximo, cada vez mais grave, cada vez mais alto, com requintes de tortura. Segurou a cabeça entre as mãos, crispando os dedos entre os cabelos, tapando os ouvidos quase até ao limiar da dor. Enlouquecia. Abriu as portadas e saiu. Correu para a floresta que se estendia, negra e silenciosa, a sul da casa. Não se vestiu. A camisa branca de algodão finíssimo esvoaçava enquanto corria. Um som distante, longínquo, como um uivo, envolvia agora todo o espaço entre as árvores. Tudo à sua volta permanecia assombrosamente azul. Olhava para o céu e os seus olhos cintilavam, fazendo perguntas às estrelas ausentes. Correu a um ritmo alucinante, rasgando a noite escura com a sua deslumbrante figura pálida. Se pudéssemos congelar o momento, encontrar-se-ia a mais bela fotografia do mundo. Era atrás do lobo que corria. Um lobo que conhecia sem nunca ter visto, que a chamava sem nunca ter tocado um fio dos seus cabelos. Sonhara com ele durante seis noites seguidas, um segundo mais cada noite, até que o sonho a puxou para dentro e ela foi ao seu encontro. Correu atrás dele, movida pelo sonho, dominada pela loucura. Corria como se perseguisse a própria vida, e gritava. Gritava o nome do seu amor, como se lhe respondesse. Correu até ficar sem forças, lentamente vergou os joelhos e deixou-se cair no chão húmido. Tinha chovido nas horas anteriores, muito certamente. Cravou as mãos na terra até que esta lhe doesse, negra e perfumada, entre as unhas. Sentiu um frio muito fino percorrer-lhe a parte de trás do pescoço, desde a nuca, descendo até à cintura. Depois um calor imenso a escorrer-lhe pelos braços. Tinha o lobo junto do seu corpo, o seu olhar ferido de medo. Aproximou-se do seu rosto, conseguia sentir-lhe a respiração na face gelada. Mergulhou os dedos finos no pêlo em redor do pescoço, num gesto ambíguo. Como se segurasse, como se repudiasse. Sentia-o roubar-lhe o sopro de vida, ao mesmo tempo que a alimentava de uma inexcedível sensação de eternidade. A escuridão era tão intensa que a noite parecia estender-se sobre todas as coisas, sem limites, insondáveis as suas profundezas. Reinava uma calma inquietante. O seu coração pulsava acelerado dentro do peito, o olhar num fervilhar insustentável de paixão. Olhou à volta, demorando um segundo a reconhecer o espaço do quarto. Um segundo depois, o outro lado do pesadelo: Está um homem ao seu lado. Está frio. O branco dos lençóis tingido de vermelho. Do corpo imóvel e pálido escapa-se um fio rubro e espesso. O olhar preso no infinito. Um último gesto de angústia suspenso na mão. A boca entreaberta, fixo nos lábios um suspiro, com o nome do seu amor.
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